Depois da primeira tentativa aconteceram mais algumas. Todas com o mesmo fim: um ambiente de frustração entre nós, um silêncio pesado. Na cabeça dele começavam a surgir as dúvidas acerca do que eu realmente sentia por ele e do que eu realmente queria que acontecesse entre nós. Da minha parte, eu só me perguntava “Porquê? Porquê que todas conseguem e eu não?”.
Se tivermos em conta que foram tantos anos, as tentativas não foram muitas. Cada vez que eu pensava em tentar mais uma vez fazia tudo para o evitar. Porque eu sabia que não ia conseguir. Tinha certeza. Se bem que, lá no fundo, tinha sempre uma esperançazinha. Muito pequena. Mas essa esperança era a de que “um dia” iria acontecer. Como, eu não sabia. Porque eu sabia que, naquele momento, não ia conseguir. E não me perguntem porquê. Mas eu sabia. Antes de cada tentativa eu já ia com um pensamento completamente negativo, e quando imaginava a situação a acontecer tinha a certeza que não ia conseguir deixar que as coisas se desenrolassem naturalmente.
Agora eu sei que este pensamento não era propriamente e apenas um pensamento derrotista, como muitos que eu tenho ao longo da minha vida (sou fértil em pensamentos derrotistas…). Agora sei que o vaginismo não se cura por si. Que tem que haver ajuda de um profissional médico. Que se eu tivesse continuado a esperar que acontecesse “um dia”, ainda estava à espera. A cura depende de cada uma de nós, é verdade. O papel principal da resolução do problema está em nós. Mas essa ideia, que para mim seria muito assustadora de ouvir há uns tempos atrás, deixa de o ser. Porque o tratamento, aos poucos, vai-nos tirando o medo da frustração e de tudo o que vem por aí. Vai nos dando coragem e confiança. Porque cada pequena vitória faz-nos acreditar que, afinal, nós somos capazes.
Passo a citar aqui um texto que achei muito interessante, do site “vaginismus.com”, que se intitula “10 mitos comuns sobre vaginismo”, e um deles é exactamente o de que “o vaginismo vai desaparecer sozinho”. Pois é, infelizmente, isso não acontece. E depois o site diz o seguinte: “O vaginismo não melhora sozinho. Ele requer tratamento. Quanto mais cedo o tratamento é iniciado mais rapidamente um intercurso livre de dor será obtido.”. Outro mito, que está relacionado com este e que (confesso) deu-me algum alívio quando o li diz o seguinte “Se apenas tentarmos mais (continuar tentando fazer sexo), vai acontecer.
Continuar a tentar o intercurso penetrativo enquanto existir dor apenas torna o vaginismo PIOR, não melhor. Forçar não ajuda. Pare de ter intercurso se você está sentindo dor durante o sexo e procure tratamento.”. Ou seja, uma vez que chegam à conclusão que sofrem de vaginismo, não vale a pena sofrer mais sozinhas. Porque não é sozinhas que vão resolver o problema.
Agora olho para trás e penso “como teria sido simples eu ter tentado duas, três vezes no máximo, já ter ouvido falar sobre este problema (que para mim, até eu descobrir que o tinha, era uma realidade completamente desconhecida) e ter ido logo consultar um terapeuta sexual.” O sofrimento a que eu me teria poupado.
Mas também vos digo, principalmente para quem é mais velho do que eu. Não se preocupem com a idade que já possam ter em relação à cura deste problema. Eu já temia imenso pelo meu futuro, pelo facto de nunca ir ter um relacionamento amoroso normal nem poder ter filhos. Mas isso só iria acontecer se eu tivesse continuado a sofrer sozinha. Porque a partir do momento que procurarem ajuda, é uma questão de meses. E a partir do momento em que conseguem, estarão na exacta situação em que estão as mulheres que já fazem sexo há anos. Tudo bem, nas primeiras vezes o sexo não é fantástico. Longe disso. Mas, para nós que sofremos este problema, a última coisa com que nos preocupamos quando estamos empenhadas em resolver o nosso problema é no prazer sexual. Porque esse, normalmente, as mulheres que sofrem de vaginismo conseguem tê-lo. E, quanto a mim, nunca me faltou. Muito pelo contrário. Só que chegamos a um ponto em que já não nos interessa o prazer. Queremos é a cura. Queremos dar o prazer por completo ao nosso parceiro. Queremos poder tomar a decisão de termos ou não filhos se tivermos vontade para tal. O prazer virá depois, sem pressas.
Como é que eu cheguei à conclusão de que tinha vaginismo?
Antes disso, do que eu me convencia cada vez mais era de que sofria de algum problema físico. Porque era impossível que dentro de mim houvesse um espaço onde pudesse caber um pénis.
Mas, antes de me decidir finalmente a ir a uma ginecologista, deixei passar três anos. E, surpresa das surpresas, fui à ginecologista com a minha mãe.
Pois é, aos 18 anos entrei na universidade, fui estudar para longe de casa e do meu namorado, e quando regressei de férias pela primeira vez, tive a melhor prenda de Natal de sempre. Os meus pais disseram-me que o meu namorado podia passar a frequentar a minha casa. E a partir daí foram sempre impecáveis em relação ao meu namoro. Basicamente eu e os meus pais passámos a ter uma relação normal no único aspecto em que isso falhava. E o F passou a ser verdadeiramente um membro da minha família.
Mas prosseguindo a minha história, eu estava então a viver longe do meu namorado, as saudades eram terríveis de suportar, ficávamos imenso tempo sem nos vermos. E isso para nós só aumentou a cumplicidade e o amor que sentíamos um pelo outro. Mas eu tinha medo que a distância nos afastasse. E comecei a ficar ainda mais preocupada com a minha situação. E então um dia, quando tinha 19 anos e estava de férias em casa, pedi à minha mãe se ela me podia levar à ginecologista. Ela não perguntou mais nada, marcou, e lá fomos nós.
Quando iamos no carro para a consulta ela perguntou-me se eu tinha algum problema. E eu perguntei “queres mesmo saber o que se passa?”, e então contei-lhe. No momento em que a minha mãe já devia temer que vinha uma gravidez a caminho ou uma coisa do género, eu disse-lhe “Eu sou virgem, mas não é porque quero, é porque não consigo”. A minha mãe não percebeu bem a dimensão do problema. De todo. Brincou com a situação, como faz com todos os assuntos que são sérios mas que ela prefere desvalorizar para amenizar as coisas. E foi isso que fez.
Mas então chegámos ao consultório, eu entrei sozinha, e disse à médica o que se passava, salientando que achava que o meu corpo não era normal. E ela então fez-me o exame e disse-me o que eu temia ouvir (sim, temia): “Está tudo bem contigo. Tu és igual a todas as raparigas”. Confesso que não era realmente o que eu queria ouvir. Nessa altura eu queria ter ouvido qualquer coisa do género “Realmente tu tens um problema, e vais ter que ser operada para te pormos “normal””. Juro-vos, era mesmo isto que eu queria ouvir. Que, sem nenhum esforço, eu ia ficar normal, e que tudo se ia resolver. E mesmo depois de saber que o que tinha era vaginismo pensei inúmeras vezes que o que mais queria era que me rompessem o hímen numa cirurgia. O que eu não percebia na altura é que não é o rompimento do hímen que dói na primeira relaçao sexual, que não era propriamente isso que eu temia, e que a tal operação que eu tanto queria não ia ter em nada o efeito que eu pretendia.
Então a ginecologista receitou-me um lubrificante e disse-me que por enquanto ficávamos assim. Que não me queria dar nada mais forte. Como é óbvio, o lubrificante não me ajudou em nada e eu voltei lá à procura de algo mais forte. Ela então receitou-me uma pomada com efeitos anestésicos e disse-me que, se eu não conseguisse com aquilo, que teria que me encaminhar para outro colega dela (como se eu me fosse assustar de ouvir a palavra “psicólogo” ou até “psiquiatra”…). E, mais uma vez, a pomada não me ajudou absolutamente nada.
Se tivermos em conta que foram tantos anos, as tentativas não foram muitas. Cada vez que eu pensava em tentar mais uma vez fazia tudo para o evitar. Porque eu sabia que não ia conseguir. Tinha certeza. Se bem que, lá no fundo, tinha sempre uma esperançazinha. Muito pequena. Mas essa esperança era a de que “um dia” iria acontecer. Como, eu não sabia. Porque eu sabia que, naquele momento, não ia conseguir. E não me perguntem porquê. Mas eu sabia. Antes de cada tentativa eu já ia com um pensamento completamente negativo, e quando imaginava a situação a acontecer tinha a certeza que não ia conseguir deixar que as coisas se desenrolassem naturalmente.
Agora eu sei que este pensamento não era propriamente e apenas um pensamento derrotista, como muitos que eu tenho ao longo da minha vida (sou fértil em pensamentos derrotistas…). Agora sei que o vaginismo não se cura por si. Que tem que haver ajuda de um profissional médico. Que se eu tivesse continuado a esperar que acontecesse “um dia”, ainda estava à espera. A cura depende de cada uma de nós, é verdade. O papel principal da resolução do problema está em nós. Mas essa ideia, que para mim seria muito assustadora de ouvir há uns tempos atrás, deixa de o ser. Porque o tratamento, aos poucos, vai-nos tirando o medo da frustração e de tudo o que vem por aí. Vai nos dando coragem e confiança. Porque cada pequena vitória faz-nos acreditar que, afinal, nós somos capazes.
Passo a citar aqui um texto que achei muito interessante, do site “vaginismus.com”, que se intitula “10 mitos comuns sobre vaginismo”, e um deles é exactamente o de que “o vaginismo vai desaparecer sozinho”. Pois é, infelizmente, isso não acontece. E depois o site diz o seguinte: “O vaginismo não melhora sozinho. Ele requer tratamento. Quanto mais cedo o tratamento é iniciado mais rapidamente um intercurso livre de dor será obtido.”. Outro mito, que está relacionado com este e que (confesso) deu-me algum alívio quando o li diz o seguinte “Se apenas tentarmos mais (continuar tentando fazer sexo), vai acontecer.
Continuar a tentar o intercurso penetrativo enquanto existir dor apenas torna o vaginismo PIOR, não melhor. Forçar não ajuda. Pare de ter intercurso se você está sentindo dor durante o sexo e procure tratamento.”. Ou seja, uma vez que chegam à conclusão que sofrem de vaginismo, não vale a pena sofrer mais sozinhas. Porque não é sozinhas que vão resolver o problema.
Agora olho para trás e penso “como teria sido simples eu ter tentado duas, três vezes no máximo, já ter ouvido falar sobre este problema (que para mim, até eu descobrir que o tinha, era uma realidade completamente desconhecida) e ter ido logo consultar um terapeuta sexual.” O sofrimento a que eu me teria poupado.
Mas também vos digo, principalmente para quem é mais velho do que eu. Não se preocupem com a idade que já possam ter em relação à cura deste problema. Eu já temia imenso pelo meu futuro, pelo facto de nunca ir ter um relacionamento amoroso normal nem poder ter filhos. Mas isso só iria acontecer se eu tivesse continuado a sofrer sozinha. Porque a partir do momento que procurarem ajuda, é uma questão de meses. E a partir do momento em que conseguem, estarão na exacta situação em que estão as mulheres que já fazem sexo há anos. Tudo bem, nas primeiras vezes o sexo não é fantástico. Longe disso. Mas, para nós que sofremos este problema, a última coisa com que nos preocupamos quando estamos empenhadas em resolver o nosso problema é no prazer sexual. Porque esse, normalmente, as mulheres que sofrem de vaginismo conseguem tê-lo. E, quanto a mim, nunca me faltou. Muito pelo contrário. Só que chegamos a um ponto em que já não nos interessa o prazer. Queremos é a cura. Queremos dar o prazer por completo ao nosso parceiro. Queremos poder tomar a decisão de termos ou não filhos se tivermos vontade para tal. O prazer virá depois, sem pressas.
Como é que eu cheguei à conclusão de que tinha vaginismo?
Antes disso, do que eu me convencia cada vez mais era de que sofria de algum problema físico. Porque era impossível que dentro de mim houvesse um espaço onde pudesse caber um pénis.
Mas, antes de me decidir finalmente a ir a uma ginecologista, deixei passar três anos. E, surpresa das surpresas, fui à ginecologista com a minha mãe.
Pois é, aos 18 anos entrei na universidade, fui estudar para longe de casa e do meu namorado, e quando regressei de férias pela primeira vez, tive a melhor prenda de Natal de sempre. Os meus pais disseram-me que o meu namorado podia passar a frequentar a minha casa. E a partir daí foram sempre impecáveis em relação ao meu namoro. Basicamente eu e os meus pais passámos a ter uma relação normal no único aspecto em que isso falhava. E o F passou a ser verdadeiramente um membro da minha família.
Mas prosseguindo a minha história, eu estava então a viver longe do meu namorado, as saudades eram terríveis de suportar, ficávamos imenso tempo sem nos vermos. E isso para nós só aumentou a cumplicidade e o amor que sentíamos um pelo outro. Mas eu tinha medo que a distância nos afastasse. E comecei a ficar ainda mais preocupada com a minha situação. E então um dia, quando tinha 19 anos e estava de férias em casa, pedi à minha mãe se ela me podia levar à ginecologista. Ela não perguntou mais nada, marcou, e lá fomos nós.
Quando iamos no carro para a consulta ela perguntou-me se eu tinha algum problema. E eu perguntei “queres mesmo saber o que se passa?”, e então contei-lhe. No momento em que a minha mãe já devia temer que vinha uma gravidez a caminho ou uma coisa do género, eu disse-lhe “Eu sou virgem, mas não é porque quero, é porque não consigo”. A minha mãe não percebeu bem a dimensão do problema. De todo. Brincou com a situação, como faz com todos os assuntos que são sérios mas que ela prefere desvalorizar para amenizar as coisas. E foi isso que fez.
Mas então chegámos ao consultório, eu entrei sozinha, e disse à médica o que se passava, salientando que achava que o meu corpo não era normal. E ela então fez-me o exame e disse-me o que eu temia ouvir (sim, temia): “Está tudo bem contigo. Tu és igual a todas as raparigas”. Confesso que não era realmente o que eu queria ouvir. Nessa altura eu queria ter ouvido qualquer coisa do género “Realmente tu tens um problema, e vais ter que ser operada para te pormos “normal””. Juro-vos, era mesmo isto que eu queria ouvir. Que, sem nenhum esforço, eu ia ficar normal, e que tudo se ia resolver. E mesmo depois de saber que o que tinha era vaginismo pensei inúmeras vezes que o que mais queria era que me rompessem o hímen numa cirurgia. O que eu não percebia na altura é que não é o rompimento do hímen que dói na primeira relaçao sexual, que não era propriamente isso que eu temia, e que a tal operação que eu tanto queria não ia ter em nada o efeito que eu pretendia.
Então a ginecologista receitou-me um lubrificante e disse-me que por enquanto ficávamos assim. Que não me queria dar nada mais forte. Como é óbvio, o lubrificante não me ajudou em nada e eu voltei lá à procura de algo mais forte. Ela então receitou-me uma pomada com efeitos anestésicos e disse-me que, se eu não conseguisse com aquilo, que teria que me encaminhar para outro colega dela (como se eu me fosse assustar de ouvir a palavra “psicólogo” ou até “psiquiatra”…). E, mais uma vez, a pomada não me ajudou absolutamente nada.
Olá! Antes de mais, parabéns pelo blog! Eu tenho vaginismo e tenho vindo a ser consultada por uma Psicóloga Sexual e identifico-me com muito daquilo que leio neste blog. Um dos aspectos que me refrescou a memória foi a visita à ginecologista, eu também esperava ter algum problema físico que pudesse ser tratado com uma cirurgia, mas infelizmente, o problema que tenho é psicológico e ainda vou nas primeiras duas consultas... :-(
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