Este aconteceu na minha festa de aniversário, no sótão da minha casa. Eu fazia treze anos. Vesti-me a rigor para receber o meu namorado, pela primeira vez, na minha casa. Ele ofereceu-me uma caneta com o meu nome gravado. Foi logo para a caixinha dos bilhetinhos amorosos e demais “romantiquices”, onde guardava tudo o que me fazia lembrar dele.
A meio da festa fomos todos para o sótão, com o propósito de jogar ao “quarto escuro”. Na verdade, tantos os meus amigos como eu tínhamos o mesmo objectivo para o jogo, que era eu dar o meu primeiro beijo. Já estava mais do que na hora :p!!
E lá fomos nós os dois para um cantinho do sótão, enquanto os meus amigos ficaram a conversar. Ficámos algum tempo a conversar. Sobre o quê já não me lembro. Lembro-me apenas que estávamos ambos muito embaraçados, sem saber o que dizer. Mal nos separávamos os nossos telemóveis não paravam um segundo, mas quando estávamos frente a frente a coisa mudava de figura. Mas falámos. E ainda me dá um friozinho na barriga quando me lembro que estava com uma caneta na mão e ele tirou-ma para poder segurar na minha mão…ui! Adorei! Já se passaram alguns anos mas parece que estou a sentir agora o que senti naquele momento. Mas o F, muito tímido, não conseguiu mais do que isso. E eu continuava à espera. Afinal não é o homem que tem que ter a iniciativa de beijar a mulher?! Pois, mas se eu tivesse ficado aguardado arriscava-me a ainda estar à espera :p, e então decidi ser uma mulher moderna, e dei o passo. E pronto, por minha iniciativa demos o nosso primeiro beijo. O nosso primeiro beijo a sério. De língua. Foi a primeira vez dos dois. O primeiro beijo…porque a outra primeira vez foi muito mais difícil, e nessa eu já não fui, de longe, tão moderna… Mas adiante.
O segundo beijo foi daí a um mês…num lugar muito romântico: o Mc Donald’s :p. Sou sincera, não me lembro bem deste momento. Mas tenho um caderninho onde anotei os nossos primeiros beijos, até ao 18.º, altura em que, finalmente, perdi a conta :p.
Nesta altura viamo-nos por volta de uma, duas vezes por mês. Como já disse anteriormente, os primeiros anos do meu namoro não foram nada facilitados pelos meus pais. Com o meu pai o assunto era um tabu. Pura e simplesmente não era falado. Quanto à minha mãe, era a ela que eu “tinha” que pedir para ir ao cinema com ele (e com mais pessoas, porque senão provavelmente não me deixava), e esses dias, que deviam ser de grande alegria para mim, não eram, pelo menos não as horas que antecediam esse pedido que eu tinha que fazer à minha mãe. Um simples “posso ir ao cinema?” era muito, muito difícil de pronunciar, porque a minha mãe ficava toda mal disposta. Nunca disse que não, mas ficava sempre mal encarada, e eu, sempre uma “boa menina” (demasiadamente boa menina…) não era capaz de mentir e dizer que ia com as minhas primas (que também iam connosco) ou inventar uma desculpa qualquer. A verdade é que isso teria me poupado a muito sofrimento, mas eu nunca consegui mentir aos meus pais. Feliz ou infelizmente. Agora chego a pensar que foi infelizmente, porque eu não estava a fazer mal a ninguém, estava a viver o meu primeiro verdadeiro amor, e se deixasse escapar certos “pormenores” das minhas saídas (ou seja, o facto de o F. “também” estar presente nelas) teria tido muito menos chatices. Mas não conseguia. Nesta altura eu estava longe de saber que a origem do meu problema futuro estava aqui, no facto de eu querer sempre ser uma filha exemplar. Porque isso fazia me sentir sempre angustiada (apesar de também muito feliz) quando estava com o F, porque sabia que os meus pais não queriam.
Neste momento pode parecer que os meus pais são uns monstros. Não são, de todo! Para mim, aliás como para quase toda a humanidade, os meus pais são os melhores do mundo, e eu quero seguir os seus passos em grande parte da educação dos meus filhos, mas não em tudo porque, além de os tempos mudarem e termos que evoluir, os meus pais, como normais seres humanos que são, falharam num ponto. Na maneira como lidaram com o meu namoro na adolescência. Eles, as pessoas que mais amo no mundo, fizeram-me sofrer. E sabem disso. Agora em adulta já fiz questão de lhes deixar isso muito claro. Até porque é com os erros que nós aprendemos.
Neste momento não guardo ressentimentos. Até porque já fui recompensada por eles de diversas formas, algumas das quais não imaginava que fossem acontecer tão cedo, mas esse é um ponto que irei desenvolver mais adiante.
Um dia, quando ainda era adolescente, tive uma conversa séria com a minha mãe. Às escuras, no meu quarto. Quando eu já estava deitada na cama. O facto de não nos podermos ver olhos nos olhos deve ter ajudado. Não sei. E a minha mãe disse-me que tudo o que queria era o meu bem. E que achava que eu era muito nova para me “prender”. A minha mãe, que só teve um namoro sério na vida (com o meu pai) e que não começou a namorar assim tão mais tarde do que eu (tinha por volta de 14 anos), sempre gostou muito de se referir aos namoros “precoces” com esse termo…”prender”.
E não pensem que, apesar de bem comportadinha, eu não respondia à minha mãe. Sempre que tinha oportunidade também fazia questão de deixar clara a minha opinião sobre certos assuntos. Aliás, fartei-me de lhe dizer que se o facto de a pessoa se “prender” tão cedo fosse assim tão mau, ela não teria casado com o meu pai e formado o casal mais feliz que eu conheço. Sim, porque os meus pais são o casal mais exemplar que eu conheço. Depois de mais de 25 anos de casamento, e com um casamento que não tem sido só feito de alegrias (afinal qual a família que não tem os seus problemas?), continuam a ser o exemplo de amor mais bonito que já tive o prazer de testemunhar, e talvez por aí eu seja o romantismo em pessoa. Adoro uma história de amor. A pessoa mais insignificante para mim torna-se interessante se começar a protagonizar uma história de amor. Querem me entreter um pedaço? Então contem-me uma história de amor. Com fotografias de preferência J. Adoro ver fotos de casalinhos apaixonados. Adoro tudo o que esteja relacionado com o amor. Sou uma romântica incurável!
Por agora falta referir um facto, que era o outro grande obstáculo do nosso namoro. Não fosse ele e eu nem tinha que pedir autorização aos meus pais para estar com o meu namorado. É que nós nunca andámos na mesma escola. E, nos dois primeiros anos do nosso namoro, estávamos em escolas bem distantes. O que dificultava muito os nossos encontros. Daí que só nos podíamos encontrar ao fim de semana, altura em que tinha que pedir autorização para sair de casa (como aliás é normal).
E foi assim o nosso namoro até ao fim de 2001, altura em que o F veio estudar para uma escola pertinho da minha, e passámos a poder nos ver cinco dias por semana, nem que fosse só por cinco minutos (quando a compatibilidade dos nossos horários não dava para mais)…que sonho :)!!
Vaginismo na capa do Globo.com
Há 3 anos
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