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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Exercícios...muitos exercícios!

Depois de tantos anos a pedir insistentemente nos desejos para o ano novo a minha cura do vaginismo (embora, confesso, a cada ano que passava já acreditava cada vez menos que iria conseguir), eis que este ano esse desejo não vai ser pedido... Lembro-me de ter comentado com a minha tia, na passagem de 2008 para 2009, que pediu sempre a mesma coisa e que ela nunca se concretizava...pois é meninas, eu estava enganada! A cura do vaginismo, afinal, é um objectivo concretizável! E, acreditem nas minhas palavras, às vezes bem mais fácil de concretizar que outras situações com que nos debatemos mas às quais só damos mais importância depois de curar o vaginismo. Isto também porque o ser humano é assim, dominado por uma insatisfação constante. Nós somos assim. Não vale a pena tentar evitar. E eu resolvi o vaginismo, sim, sou uma mulher muito feliz e sinto-me muito realizada por isso, é verdade, mas é também verdade que, desde que ultrapassei esse obstáculo, surgiram outros, e outros, que já existiam, tomaram outra dimensão.
Neste momento um deles é conduzir. Sim, porque eu estou sempre a aconselhar todas as mulheres a fazerem os exercícios para a cura do vaginismo todos os dias se possível, mas eu também devia conduzir todos os dias se possível e não o faço (nem de longe nem de perto).
Isto para dizer que, apesar de não sofrer mais com o vaginismo e às vezes até dar por mim a pensar "caramba, como é que levei tanto tempo para conseguir isto que não é afinal o bicho de sete cabeças como eu me convenci a mim própria?", sei que não é fácil. É bem mais fácil evitar os exercícios do que enfrentar a frustração cada vez que não conseguimos frutos.
Mas ouçam o que vos digo. Se as minhas tentativas de conduzir correrem para o torto, posso bater noutro carro, posso ter prejuízos monetários grandes, e posso até me ferir (que cenário incentivante!!). Se as vossas tentativas de colocar um tampão, ou o dedo, ou um dildo, falharem, sabem o que conseguiram? Conseguiram estar a uma tentativa mais próximas da cura!
E digo-vos de coração: Eu tive receio de começar a pôr tampões, e o dedo, e o dildo...mas não evitei! A sério que não evitei! Tinha mais medo da hora "h" em que teria que tentar mesmo a sério com o meu namorado. Isto porque a vontade de me livrar deste mal era gigante!! E não pensem que as tentativas foram sempre bem sucedidas! Não mesmo! Mas também vos digo outra coisa, e mais uma vez falo-vos com toda a minha sinceridade...custou-me muito mais a começar a inserir um dedo e um tampão, sozinha, dentro de mim, do que me custou o dildo e a penetração com o meu namorado! Juro!! Isto porque o que custa mais é o início! É o conseguirmos relaxar os músculos da vagina para deixar entrar seja o que for. Porque, a partir daí, e nós sabemos que o nosso corpo está feito para sair um bébé de dentro de nós, portanto aí é sempre a evoluir no caminho da cura...
Às vezes tenho receio que os meus posts sejam demasiado longos e eu vos aborreça...Isto porque também me ponho a divagar um pedaço. Mas é mais forte do que eu. Espero não ser muito chata.
Ah, já me ia esquecendo, nunca mais me lembrei disto! E às vezes tenho dificuldades em me lembrar da ordem cronológica pela qual fiz os vários exercícios durante o tratamento. Mas, se não estou em erro, ainda antes de começar a tentar inserir os dedos e os tampões, tive como trabalho de casa fazer os exercícios de kegel. Para quem não sabe, é um exercício físico que tem como objectivo geral fortalecer os músculos da zona da vagina. Como é que são feitos? Contraindo e descontraindo esses músculos várias vezes seguidas (a minha médica disse que para serem bem feitos não podemos estar a contrair ao mesmo tempo nem os músculos na barriga nem o anûs, temos que focar apenas nos músculos vaginais. E tinha que fazê-los à volta de 20 vezes seguidas (se não me engano), todos os dias. De início era para tentar quando fizesse xixi, mas só uma vez ou duas (porque isso não é bom para a bexiga). Isto ajuda-nos a aprender a controlar o músculo que tão teimosamente insistimos em contrair na hora errada.
Por agora vou ficar por aqui, na tentativa de não fazer um post tão longo que ninguém tenha coragem de começar sequer a ler...
Desejo a todas um 2010 marcado pela cura do vaginismo e por muita felicidade!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Contar ou não contar...

Ando numa indecisão, que tenho que resolver rápido porque depois volto para Lisboa (onde vivo a maior parte dos meus dias nos últimos anos) e aí já é tarde. A questão é que preciso de ir à ginecologista, porque já se passou quase meio ano desde que iniciei a minha vida sexual por completo e agora convém saber se está tudo bem comigo. E a minha dúvida é se consulto a médica que conhece o vaginismo e que eu consultei há uns meses (quando já ia à psicóloga e fui só mesmo confirmar o que já tinha a certeza, ou seja, que sofria de vaginismo) ou se consulto a que consultei há uns anos, que é a ginecologista de praticamente todas as mulheres da minha família, e de quem eu gosto muito. Sou-vos sincera. Os dois principais motivos que me levam a querer consultar esta última são os seguintes: conheço-a há muito tempo, e sinto-me à vontade com ela enquanto médica, e, como ela foi muito querida para mim há uns anos atrás quando lá fui dizer que não conseguia a penetração mas não me soube dizer que podia ser vaginismo (infelizmente ainda é um problema muito desconhecido...), queria contar-lhe do meu caso, isto na esperança de poder ajudar as mulheres da minha terra que a consultem. Isso faria-me muito feliz. O senão é que não consigo ir consultá-la sem dizer à minha mãe (não me sinto bem...) e aí ou ela me vai perguntar se "aquilo" já está resolvido, ou eu vou sentir necessidade de contar, e não se se tenho coragem. Por um lado eu quero, mas por outro... E pior que isto vai ser quando sair a reportagem sobre o vaginismo para a qual eu dei o meu contributo através duma entrevista, vai me custar muito não poder mandar a minha mãe ir a correr comprar o jornal...
Tenho 22 anos. A minha mãe está absolutamente convencida que tenho uma vida sexual activa e "normal" (já me deu a entender isso). Mas não sabe aquilo por que eu passei. Vocês contavam? E consultavam a ginecologista da família para lhe contar também?
Tenho que ser rápida a me decidir.
Quanto a vocês, que possam estar a ler estas linhas ainda passando pelo sofrimento de não conseguir ter relações sexuais com penetração, não desanimem! Eu consegui! Vocês também conseguem!
Não me canso de dizer! O meu vaginismo era primário, ou seja, sofri deste mal desde sempre, nunca consegui nem 1 centímetro de penetração em todas as tentativas que fazia com o meu namorado, deixei de tentar durante anos, e isto na altura parecia um erro (eu sentia que não devia fugir das tentativas mas era mais forte que eu), mas infelizmente a verdade, que eu só vim a saber depois, é que para mulheres como nós que sofram de vaginismo, tentar uma vez e tentar 100 é a mesma coisa, porque sem ajuda, sem muitos exercícios a preceder as tentativas de penetração, não vai resultar MESMO, por maior que seja a vontade. Pois é, não vale a pena "bater mais no ceguinho". Para quem ainda não procurou ajuda e não começou nos exercícios, o meu conselho é parar já de tentar penetração porque se sofrerem mesmo de vaginismo, só vão aumentar a vossa frustração, porque não vão, mesmo, conseguir :(!
Mas este último parágrafo só para dizer que o meu caso era extremo, tinha as maiores dificuldades possíveis e imaginárias na penetração, era um acontecimento completamente impossível nas circunstâncias em que eu me encontrava (eu era capaz de jurar que se sofresse de uma tentativa de violação que não ia ser bem sucedida, dada a minha resistência...), e EU CONSEGUI!
Com empenho e força de vontade, todos os casos têm cura! Força!!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Vaginismo...porquê?

Minhas queridas leitoras (agora que tenho duas seguidoras oficiais até escrevo com mais entusiasmo :)!), pois é, já estou de volta para continuar a vos contar mais um pouco daquilo que passei nos últimos tempos. Já consegui falar ao todo com quatro mulheres que sofrem deste problema, aos poucos estou conseguindo chegar a mais gente, e isso deixa-me muito feliz!
De vez em quando penso naquela coisa de cada pessoa ter um "dom", ou uma coisa em especial em que é boa, e nunca consegui encontrar nenhuma para mim...não tenho jeito nenhum para desenhar, não tenho jeito para decoração, até gosto de cantar mas a minha voz não é propriamente a de um rouxinol, jeito para dançar também não tenho muito (embora goste muito), ainda nem sequer trabalho, por isso nem isso faz com que eu sinta que tenho o meu papel neste mundo (não sei se estou a fazer passar a minha ideia...), mas neste momento, depois de ter passado pelo vaginismo, sinto-me um pouquinho útil, pelo menos para fazer o papel que gostava que alguém tivesse feito por mim há uns meses atrás...percebem o que quero dizer? Dar apoio, contar a minha experiência, dar força a todas as mulheres que estejam neste momento a sofrer com isto...
Mas adiante...
No início do meu tratamento propriamente dito com a psicóloga, nós não começámos logo com a parte sexual. Falávamos sempre nisso, claro, até para tentar chegar à explicação do motivo que me tinha levado a sofrer daquele problema, mas a parte prática começou pelas outras coisas, todas (supostamente) mais fáceis de resolver. Digo supostamente porque é engraçado que o vaginismo foi das primeiras que resolvi (quando eu tinha certeza que seria a mais difícil de todas de tratar). Mas vou-me explicar melhor.
Numa das primeiras consultas, o meu trabalho de casa foi identificar as situações do meu dia-a-dia que me causavam ansiedade, isto porque, como vocês sabem, o vaginismo é um problema do foro psicológico, e então é por aí que passa a sua cura. E eu lá comecei a anotar quais eram as situações que me punham ansiosa. Mesmo sem ter que passar por elas de novo não era difícil dizer: conduzir (a pior de todas depois do vaginismo (isto o que eu achava antes de me curar do vaginismo, porque a parte da condução continua por resolver...), andar em certas ruas não tão movimentadas ou que eu não conhecia tão bem, andar de transportes públicos depois de uma certa hora, e falar em público. Basicamente eram essas, na altura, as situações que me causavam ansiedade. E como é que se curam todas elas (o vaginismo, inclusive)? Fazendo-as, a todas, frequentemente. Claro que começando sempre da actividade aparentemente mais fácil, nas circunstâncias mais fáceis, até ao passo maior da verdadeira tentativa de penetração (no caso do vaginismo). E começámos então a resolvê-las, da mais fácil para a mais difícil. Entretanto, iamos falamos sobre a minha família, a minha relação com o meu namorado, enfim, a minha vida em geral.
O primeiro objectivo das consultas era responder à pergunta: porque é que eu tenho vaginismo?
Isto porque o meu caso não é daqueles flagrantes. Não sofri nenhuma tentativa de violação, nunca sequer ouvi duas pessoas a fazer sexo (quanto mais ver) durante toda a minha infância que me pudesse ter traumatizado, os meus pais não são dos mais tradicionais até...esperaram pelo casamento para ter relações sexuais, mas isso era comum na altura deles. Mas então, porque é que eu sofria de vaginismo?
Como já contei no início do meu blog (em setembro), apesar de os meus pais não serem muitos rígidos nem tradicionais, comecei a namorar aos 12 anos (cedo...) e sempre fui uma menina muito certinha, e como os meus pais não gostaram nada que eu tivesse começado a namorar tão cedo, eu tive que me encontrar com o meu namorado muitas vezes às escondidas. Sim, eu sei, isso é hiper comum nos adolescentes! Só que eu ficava com um peso na consciência muito grande e, mais do que isso (tenho que ser honesta!!) o meu maior pânico era ser encontrada na rua pelos meus pais quando estivesse com ele, ou que eles descobrissem que eu tinha ido a casa dele (isso era o terror maior da minha vida, sem dúvida!!). Isto porque nas vezes em que eu estava com ele com o conhecimento dos meus pais, as coisas não eram nada fáceis. Tinha que ouvir muitos comentários desagradáveis, que muitas vezes faziam com que eu não desfrutasse do momento como merecia...
E basicamente foi por aqui que o problema apareceu, ao que parece...

Memórias (sempre) muito presentes...

Desde que dei a entrevista de que vos falei há uma semana, e talvez também porque tenho tido mais algum tempo livre que faz com que os meus pensamentos andem a vaguear mais livremente, tenho voltado a pensar muito em tudo o que passei com o vaginismo. Tenho procurado informação na internet sobre o problema, blogs de mulheres que sofram o que eu sofri...enfim, tenho recuperado muitas memórias de tudo aquilo que passei. Porque, por mais que o vaginismo já faça parte do meu passado, foram seis anos da minha vida, foram momentos de sofrimento que já ninguém me tira, foram grandes angústias, grandes momentos de pânico, de frustração, de desilusão, de uma sensação de impotência gigante! De querer e não conseguir! De pensar "eu sei como é que se faz, sei exactamente como é que se processa, mas na hora "h" o meu cérebro não deixa o corpo funcionar naturalmente...porquê? E porquê eu? Que mal é que eu fiz?".
E sou-vos sincera, às vezes até evito pensar muito no assunto, porque tenho sempre um receio pequenino de que um dia tudo volte ao que era dantes...que eu, de repente, tenha um novo bloqueio e não consiga outra vez! Isso passa-me pela cabeça tantas vezes! Já não tenho medo quando eu e o meu namorado iniciamos o momento da penetração, de todo, mas sou muito franca, às vezes, dependendo da posição em que estamos (é sempre mais complicado para mim, e penso que para a generalidade das mulheres que passam por este problema, ficar por baixo, isto porque dessa forma não temos o controlo da situação), eu demoro alguns segundos a ceder, é estranho. E como isso aconteceu várias vezes, durante as nossas primeiras vezes, começámos a tentar ao início sempre comigo por cima, para evitar o problema, e assim as coisas correm sempre melhor.
E também, por exemplo, se por algum motivo acontece de não fazermos amor (sabe-me TÃO bem escrever esta expressão, porque por mais que os nossos momentos antes da minha cura fossem íntimos, e eram, como é óbvio, eu nunca consegui chamar "fazer amor" àquilo que nós faziamos...não sentia que aquilo era o acto completo de fazer amor, mesmo...) durante mais de uma semana seguida, aumenta um pouquinho o medo que a próxima vez não corra da melhor maneira. Mas estes pequenos medos, perto dos terrores pelos quais passei durante tanto tempo, são muito muito fáceis de enfrentar (afinal, quem enfrentou seis anos de vaginismo enfrenta qualquer problema sexual que possa vir a surgir, certo?? pelo menos assim o espero).
A propósito do que acabei de dizer acerca da expressão "fazer amor", lembrei-me de uma outra palavra, mas a esta ganhei aversão mesmo...e, se consigo escrevê-la (acreditem ou não, agora que pensei nela deu-me um arrepio mesmo físico no corpo), já não é tão fácil para mim pronunciá-la, por mais estúpido que isto vos possa parecer. Mas, acreditem, não suporto pronunciar a palavra "virgem"!Ganhei uma aversão a esta palavra, a ser virgem, não tinha o mínimo orgulho nisso, aliás, tinha já vergonha!!
Espero não estar a entristecer as possíveis leitoras que sofram deste mal só porque já falo no passado. Não! Eu tenho bem presente tudo o que passei, e acho que por mais anos que viva vou sentir-me sempre parte deste problema, mas agora já enquanto pessoa com uma força muito grande para ultrapassar sempre qualquer obstáculo e para ajudar o maior número de pessoas que puder! Quero ser para quem precisar aquela pessoa que eu queria que tivesse existido para mim há uns tempos atrás...quero que todas saibam que eu achava, mesmo, que nunca me ia curar, e agora estou aqui, feliz da vida, curada, e pronta para tudo!
Bem, desta vez não adiantei muito no desenvolvimento da minha história, mas neste momento tenho que ir. Logo que possa continuarei a minha história. Quero contá-la até ao fim e ajudar o maior número de pessoas possível, nem que seja só para vos dizer que vocês também conseguem e que não estão sozinhas!
No próximo post irei contar mais um pouco do meu tratamento na psicóloga, e em tudo o que senti enquanto ele decorreu.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ele(s)

Pois é, andei ausente nos últimos tempos mas já expliquei o porquê. Mas vou então contar mais um bocadinho da minha história, do meu longo sofrimento que, graças a Deus (e a muita persistência da minha parte) terminou há já cinco meses e meio...
Mas então acabei o último post relativo à minha história a contar que, na minha segunda consulta, fui com o meu namorado. A doutora perguntou-lhe o que é que ele achava do tratamento, de eu ter decidido procurar ajuda, enfim, de toda aquela situação! E ele disse que, até ter descoberto, ao mesmo tempo que eu, que eu sofria de um problema do qual nenhum de nós tinha absolutamente culpa nenhuma e que não dependia apenas da minha força de vontade (entenda-se, sem ajuda de um profissional, como é óbvio!) resolvê-lo, passaram-lhe pela cabeça pensamentos muito negativos. E não é para menos. Para uma pessoa que desconhece a existência de tal problema, que durante toda a adolescência (e início da vida adulta) ouviu contar mil e uma histórias de amigos e amigas que perderam a virgindade das formas mais variadas possível (algumas inclusive não correm assim tão bem, e nós sempre tivemos absoluta consciência disso, mas a nossa não corria nem bem nem mal, e esse era o grande problema...), não era fácil evitar determinados pensamentos do género "será que ela gosta mesmo de mim?", "será que ela quer mesmo que a primeira vez dela seja comigo?", entre muitos outros.
E aproveito este momento para dizer que, apesar de todos os defeitos dele (que os tem, como qualquer outro ser humano), apesar de não ter feito muita força para eu procurar ajuda, apesar de nunca me ter pressionado a resolvermos o problema, ou seja, apesar de ter deixado as coisas nas minhas mãos, tenho a agradecer eternamente o facto de, durante quase 10 anos de namoro "incompleto", ele nunca ter desistido de mim, nunca se ter cansado de esperar e não ter ido antecipar a experiência com outra pessoa...porque, alguns podem me achar ingénua, mas eu acho que todas as pessoas merecem credibilidade até provarem que não são dignos dela. E o meu namorado não é nenhum santo, e sei que muitas vezes esteve à beira da saturação, aliás, tivemos momentos muito próximos do fim, mas acabávamos por decidir tentar mais uma vez...
Se eu soubesse neste momento que tudo isto que eu dou por garantido, que o meu namorado esperou mesmo por mim, que eu fui a primeira dele como ele foi o meu, afinal não era verdade...o que mais me magoaria, muito sinceramente, seria ele não me ter contado mais cedo. Porque acho que todas as pessoas têm as suas fraquezas, e algumas, dependendo do contexto, podem ter perdão, mas o pior é a mentira, é esconder daquela pessoa com quem partilhamos tudo, que afinal a nossa relação não é bem aquilo que parece... Se, durante todos estes anos de sofrimento, eu tivesse sabido de uma traição, não vos sei dizer como teria reagido. Mas muito provavelmente não me sentiria no direito de ficar tão magoada como ficaria hoje, altura em que a nossa vida sexual já está mais completa com a minha cura.
O que é insuportável, repugnante mesmo, são os homens que têm relações de anos com mulheres que sofrem de vaginismo e nunca lhes ocorre que algo está mal, que não é apenas uma "tontice" qualquer da mulher, que não consegue porque na verdade não quer. Acham que nos dá prazer fazer sofrer a pessoa que amamos? Acham que é bom pensar TODOS os dias que, mais dia menos dia, podemos ser traídas, porque se isso já acontece com milhares de casais que têm relações sexuais "completas", o que não será com os nossos companheiros, que nem isso têm? Acham que é bom pensar que se vocês, homens, se fartarem verdadeiramente da situação, podem sempre dar meia volta e ir às vossas vidas, mas o vaginismo vai ficar sempre connosco? Acham que é bom para nós, mulheres, que (pelo menos 90 e muito %) temos o sonho tão intenso de ser mães um dia, que isso poderá nunca acontecer???
Acreditem, é preciso estar na pele para saber verdadeiramente o que é este sofrimento. Por mais anos que eu viva, nunca me vou esquecer do que sofri. A minha adolescência, a partir do momento em decidi que queria deixar de ser virgem (seis anos antes de concretizar essa vontade), foi manchada por esse peso que eu carreguei todos estes anos. Na minha viagem de finalistas, como podem imaginar, ouvi as histórias mais malucas possível de "este que dormiu com aquela" e do casal de namorados que preferiu ficar em casa do que ir para a discoteca para ter uma grande noite de amor...enquanto que no meu quarto, eu e o meu namorado, cheios de amor um pelo outro, o máximo que conseguimos foram duas ou três tentativas falhadas, super frustantes...naquela semana até fui persistente, porque não era hábito ter tantas tentativas seguidas (como podem imaginar, cada fracasso é seguido de uma grande carga emocional negativa, é HORRÍVEL!!)! E então quando cheguei à faculdade, e principalmente depois de dizer que já namorava há alguns anos, ninguém sequer perguntava se eu era virgem ou não, partiam logo do pressuposto que, como seria óbvio, eu já não era há muito tempo, e aquelas conversas muito frequentes entre amigos eram muito difíceis de evitar...enfim, um verdadeiro terror!
Por agora vou ficar por aqui, e prometo que vou tentar continuar a minha história logo que possa (espero que não leve muito tempo...).

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Novidades

Este post é curto. Só para dizer que o facto de nao ter recebido muito feedback me desmotivou a continuar a contar a minha historia. porque o meu objectivo é apenas ajudar. porque, graças a Deus, ja estou curada (mas como eu consegui, todas conseguem)!
Por isso a quem venha visitar este blog e queira ouvir algumas palavras de conforto ou queira saber mais sobre como foi o meu tratamento, digam qualquer coisa! Ou enviem-me um email (vag.psi@gmail.com). Gostava mesmo de poder ajudar pessoas que passem pelo que eu passei.
Já agora aproveito para dizer que nos últimos dias voltei a pensar muito nos tempos dificeis que passei quando tinha vaginismo. isto porque um jornal cá de portugal ligou para a minha psicologa porque estao a fazer uma reportagem sobre vaginismo e queriam que ela lhes indicasse pessoas que sofressem deste problema. Hoje mesmo eu fui dar a entrevista. Estava nervosa, mas ainda bem que fui!! E oxala ajude alguem! É tudo o que quero. Nao ha nada como saber que alguem passou pelo mesmoe superou...era tudo o que eu queria ouvir ha uns meses atras...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A primeira consulta de terapia sexual

Foi através da net que descobri aquela que veio a ser a minha psicóloga. Não conhecia nenhum médico especialista em psicologia na área da sexualidade, e ainda por cima li por diversas ocasiões que, mesmo tratando-se desses profissionais, nem todos se dedicam ao tratamento do vaginismo. Provavelmente por ser um problema não muito usual. Mas encontrei um artigo sobre a disfunção e lá enviei um mail para a médica para saber da disponibilidade dela para a marcação de uma consulta (um telefonema teria sido mais rápido, mas o mail seria melhor para eu eventualmente ignorá-lo e continuar a fugir ao tratamento). Mas então uns dias mais tarde liguei a marcar a consulta. Sinceramente, eu queria ir à consulta naquela semana (porque estava em pânico com a possibilidade de perder o meu namorado sem nunca termos tido uma relação sexual a 100%) mas também tinha uma ligeira esperança (não sei sequer se posso chamá-la mesmo de esperança) de que não existissem vagas para os próximos dias porque a ideia de ir, finalmente, à consulta, não me deixava mais calma do que a ideia de perder o meu namorado. Ainda por cima nem lhe poderia pedir para vir comigo, dadas as circunstâncias. Quando me disseram ao telefone que tinham vaga para a sexta feira dessa semana as minhas pernas começaram a tremer. Mas ficou marcada. Agora não havia volta a dar. Sim, porque eu não sou pessoa de fugir aos compromissos que assumo, por muito custosos que sejam alguns deles.

E lá fui eu, na tal sexta feira, à minha primeira consulta. Os momentos que a antecederam foram de um nervosismo terrível! Ainda por cima numa semana em que eu e o meu namorado não nos falávamos. Eu estava há uma semana a dormir na casa de uma amiga, sentindo tremendamente a falta dele, principalmente quando chegava à hora de me deitar. Isso tudo aliado ao facto de o meu namorado ser também o meu confidente, que partilha todas as minhas alegrias e medos. E ele sem fazer a mínima ideia do que ia acontecer naquela tarde. Não foi nada fácil, mas eu não podia ficar mais tempo sem tratamento!

E eis que chegou o momento em que me sentei na cadeira à frente da psicóloga e lhe disse basicamente o seguinte “Eu não sei se estou no sítio certo, mas acho que tenho vaginismo”. E então ela quis saber o porquê de eu achar aquilo e se já tinha feito exame ginecológico para descartar a possibilidade de ser um problema físico. Aquela hora foi terrível para mim. Finalmente estava a contar a maior frustração da minha vida a um profissional. Não consegui evitar as lágrimas. Disse-lhe há quanto tempo estava a sofrer com aquilo, que não tinha procurado ajuda mais cedo com medo de não haver cura para o meu problema. E então ela explicou-me que havia cura, e sintetizou-me basicamente os passos em que iria consistir o tratamento. Confesso que fiquei um bocado assustada. Quando se está numa situação como aquela, é assustador imaginar que daí a uns tempos podemos estar a tentar enfiar objectos com um diâmetro impensável para caber dentro de nós. Assustador porque eu não cheguei ao consultório a achar que ia conseguir me curar. Não mesmo. Naquele momento, para mim, eu tinha o pior caso de vaginismo que já tinha existido no mundo e a cura era ainda uma mera esperança muito reduzida, muito mesmo. Tenho que admitir, naquele momento eu não acreditava na minha cura. Mas a médica também me disse que nunca iamos fazer nada para o qual eu não me sentisse preparada e que iamos passar por diversas fases, das quais só a última envolveria a sexualidade, pelo menos a parte da tentativa da penetração. Explicou-me também que não ia ser um processo rápido, que cada mulher leva o seu tempo mas que estava em causa um tratamento que não era propriamente rápido. Que poderia levar até um ano e alguns meses. Naquele momento eu disse que, depois do tempo todo que já tinha esperado, não era mais esse que me assustava.
Nesse dia falámos basicamente no que iria ser o tratamento e eu falei um pouco de mim. E ela pediu-me para, na próxima consulta, levar o meu namorado comigo. Eu também lhe expliquei que estávamos a viver um momento complicado na nossa relação mas que achava que ele poderia ir comigo da próxima vez. E então ficou acordado que as consultas seriam de duas em duas semanas e que, na próxima vez, eu não iria sozinha.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ajuda: precisa-se!!

Às mulheres que ainda não recorreram à ajuda de um profissional porque, tal como eu tive, têm medo, aqui vão umas palavrinhas.
Antes de mais, não inventem desculpas para não marcar uma consulta. Têm que marcá-la o mais depressa possível! Para ontem! Não percam mais tempo porque a vossa cura depende só disso e da vossa força de vontade. Mais nada. Bastam esses dois ingredientezinhos para que alcancem o sucesso que tanto anseiam!
Eu também evitei as consultas durante muito tempo com as mais diversas desculpas (foram cinco anos a fugir delas…tive que inventar mais do que uma para me enganar a mim própria!!)…
“Agora não dá, ando cheia de coisas para estudar e aquilo devem ser horas e horas de espera no consultório”…por acaso devo ter tido sorte, porque o máximo que esperei pelas consultas foram dez minutos;
“Não posso marcar consulta porque não sei sequer a que especialista recorrer…psicólogo? psiquiatra? sexólogo??”… não há nada como tentar…das primeiras coisas que disse à minha psicóloga quando lá cheguei (que, já agora, tem a especialização de sexologia, e foi por aí que me decidi a consultá-la) foi que não sabia se estava no lugar certo, mas até estava!;
“Que vergonha, um especialista em sexualidade…o que é que será que as pessoas na sala de espera vão pensar que eu tenho para estar ali??” …primeiro: se elas lá estão é porque também têm algum problema, que não tem necessariamente que ser “melhor” que o meu, e depois…quem é que não tem os seus problemas??
“A psicóloga vai achar que eu sou parva…afinal todas as pessoas normais conseguem fazer sexo, certo?”…sim, tenho que admitir, realmente este pensamento conseguiu o primeiro lugar no top dos mais estúpidos. Mas o que eu temia mesmo era ser tratada de uma forma fria, insensível, por uma pessoa com quem eu sentisse uma distância que impossibilitasse uma aproximação que ajudasse a minha cura…pois bem, sorte ou não, calhou-me uma médica nova (o que para mim, que ainda mal me sinto adulta, me ajudou muito) e que percebeu a verdadeira dimensão do meu problema (aliás, era mesmo especialista no assunto) e me apoiou desde o primeiro minuto. É verdade que em todas as áreas há profissionais bons e maus, mas também não nos podemos esquecer que quando está em causa um domínio tão íntimo da nossa vida como é a sexualidade, há que ter um certo perfil para a coisa ou então já teriam mudado de profissão porque não iam conseguir sobreviver às custas daquele ofício...
“Tenho que fazer mais uma tentativa de conseguir a penetração antes de me decidir então a recorrer a ajuda profissional”…ok, esta foi a que me soava melhor ao ouvido…afinal até faz sentido. Senão vejamos...a última tentativa já foi há tanto tempo, se calhar entretanto eu já consigo e escuso de estar a perder tempo e dinheiro… Até podem tentar mais uma vez…se estiverem com vontade de ter mais uma decepção. Já não chegaram todas as que já tiveram antes? A dura verdade é esta, por mais autónomas que possamos ser em todos os outros aspectos da nossa vida: este problema não se resolve sozinho. E daqui até vocês terem coragem de fazer a tal tentativa (falhada!!) antes de irem ao médico, vão se passar mais uns mesitos, que poderiam muito bem já ser os meses do tratamento!

São estas e muitas outras desculpas que nos impedem de acabar com o nosso problema o mais rápido possível. Fui a um site e estive a ler depoimentos de mulheres com este problema e fiquei assustada ao ler a quantidade de anos que certas mulheres passaram por isto. E eu que sinto que passei uma vida nisto…

Estes são alguns dos motivos que nós invocamos para fugir à ajuda de um profissional…mas e o que é que nos leva a, finalmente, marcar a bendita consulta?
Provavelmente, na maioria dos casos, o que me aconteceu a mim. Uma crise no relacionamento. A altura em que caímos em nós e nos apercebemos que ele, mesmo nos amando, não consegue esperar mais. O que até se compreenderia, não fosse o facto de os incentivos vindos da parte dele para eu marcar uma consulta terem sido muito poucos. Segundo o que percebi mais tarde nas minhas consultas, os parceiros das pacientes que sofrem de vaginismo também desenvolvem um certo perfil com umas determinadas características que eles adquirem para combaterem o problema à sua maneira. E, pelo que vi também nos depoimentos que já li acerca deste problema, eles normalmente são muito compreensivos (até ao dia em que, de repente, esgotam a paciência sem explicar bem porquê), mas talvez até demais. Reconheço que o facto de ele insistir comigo para um marcar uma consulta talvez não tivesse sido tão eficaz como foi o medo do fim da relação, mas, por tudo o que se criou entre nós ao longo dos anos, ganhei esperanças de que as coisas não fossem acontecer daquela maneira. Mas ninguém é de ferro! E a verdade também é que não foi exactamente por esse motivo que a nossa relação entrou em crise. Mas o facto é que foi, sim, uma grande ajuda.

Mas foi então num momento de crise que decidi marcar, finalmente, uma consulta. Como é óbvio num relacionamento de anos não foi a primeira crise que vivemos. Mas foi a primeira em que decidimos dar um tempo porque a nossa relação não estava mesmo nada bem. Depois de já não estarmos separados por imensos kms de distância, quando inclusive já estávamos a viver juntos há um ano (sim, é verdade, ele veio estudar para a mesma cidade que eu dois anos depois de mim e, por decisão dos meus pais (e também, verdade seja dita, porque o meu namorado estava à procura de casa para arrendar e era tudo demasiado caro) começámos a viver juntos), passámos por um momento bem complicado da nossa relação. Decidimos dar um tempo de uma semana no mínimo e foi nessa semana que fui à minha primeira consulta.

Só vos digo uma coisa. Bendita crise!! Porque a partir dessa semana tudo mudou. Para muito melhor. Só tenho pena quando penso que nem todos os casais têem a mesma sorte que nós tivemos e que muitos relacionamentos bonitos devem acabar à custa deste monstro que assola as nossas vidas… Por isso, mais uma vez (não me canso de repetir!!) não adiem a solução para o vosso problema. Não sofram mais nem deixem sofrer o vosso parceiro!

domingo, 20 de setembro de 2009

A consulta no ginecologista

Depois da primeira tentativa aconteceram mais algumas. Todas com o mesmo fim: um ambiente de frustração entre nós, um silêncio pesado. Na cabeça dele começavam a surgir as dúvidas acerca do que eu realmente sentia por ele e do que eu realmente queria que acontecesse entre nós. Da minha parte, eu só me perguntava “Porquê? Porquê que todas conseguem e eu não?”.
Se tivermos em conta que foram tantos anos, as tentativas não foram muitas. Cada vez que eu pensava em tentar mais uma vez fazia tudo para o evitar. Porque eu sabia que não ia conseguir. Tinha certeza. Se bem que, lá no fundo, tinha sempre uma esperançazinha. Muito pequena. Mas essa esperança era a de que “um dia” iria acontecer. Como, eu não sabia. Porque eu sabia que, naquele momento, não ia conseguir. E não me perguntem porquê. Mas eu sabia. Antes de cada tentativa eu já ia com um pensamento completamente negativo, e quando imaginava a situação a acontecer tinha a certeza que não ia conseguir deixar que as coisas se desenrolassem naturalmente.

Agora eu sei que este pensamento não era propriamente e apenas um pensamento derrotista, como muitos que eu tenho ao longo da minha vida (sou fértil em pensamentos derrotistas…). Agora sei que o vaginismo não se cura por si. Que tem que haver ajuda de um profissional médico. Que se eu tivesse continuado a esperar que acontecesse “um dia”, ainda estava à espera. A cura depende de cada uma de nós, é verdade. O papel principal da resolução do problema está em nós. Mas essa ideia, que para mim seria muito assustadora de ouvir há uns tempos atrás, deixa de o ser. Porque o tratamento, aos poucos, vai-nos tirando o medo da frustração e de tudo o que vem por aí. Vai nos dando coragem e confiança. Porque cada pequena vitória faz-nos acreditar que, afinal, nós somos capazes.

Passo a citar aqui um texto que achei muito interessante, do site “vaginismus.com”, que se intitula “10 mitos comuns sobre vaginismo”, e um deles é exactamente o de que “o vaginismo vai desaparecer sozinho”. Pois é, infelizmente, isso não acontece. E depois o site diz o seguinte: “O vaginismo não melhora sozinho. Ele requer tratamento. Quanto mais cedo o tratamento é iniciado mais rapidamente um intercurso livre de dor será obtido.”. Outro mito, que está relacionado com este e que (confesso) deu-me algum alívio quando o li diz o seguinte “Se apenas tentarmos mais (continuar tentando fazer sexo), vai acontecer.
Continuar a tentar o intercurso penetrativo enquanto existir dor apenas torna o vaginismo PIOR, não melhor. Forçar não ajuda. Pare de ter intercurso se você está sentindo dor durante o sexo e procure tratamento.”. Ou seja, uma vez que chegam à conclusão que sofrem de vaginismo, não vale a pena sofrer mais sozinhas. Porque não é sozinhas que vão resolver o problema.

Agora olho para trás e penso “como teria sido simples eu ter tentado duas, três vezes no máximo, já ter ouvido falar sobre este problema (que para mim, até eu descobrir que o tinha, era uma realidade completamente desconhecida) e ter ido logo consultar um terapeuta sexual.” O sofrimento a que eu me teria poupado.
Mas também vos digo, principalmente para quem é mais velho do que eu. Não se preocupem com a idade que já possam ter em relação à cura deste problema. Eu já temia imenso pelo meu futuro, pelo facto de nunca ir ter um relacionamento amoroso normal nem poder ter filhos. Mas isso só iria acontecer se eu tivesse continuado a sofrer sozinha. Porque a partir do momento que procurarem ajuda, é uma questão de meses. E a partir do momento em que conseguem, estarão na exacta situação em que estão as mulheres que já fazem sexo há anos. Tudo bem, nas primeiras vezes o sexo não é fantástico. Longe disso. Mas, para nós que sofremos este problema, a última coisa com que nos preocupamos quando estamos empenhadas em resolver o nosso problema é no prazer sexual. Porque esse, normalmente, as mulheres que sofrem de vaginismo conseguem tê-lo. E, quanto a mim, nunca me faltou. Muito pelo contrário. Só que chegamos a um ponto em que já não nos interessa o prazer. Queremos é a cura. Queremos dar o prazer por completo ao nosso parceiro. Queremos poder tomar a decisão de termos ou não filhos se tivermos vontade para tal. O prazer virá depois, sem pressas.

Como é que eu cheguei à conclusão de que tinha vaginismo?
Antes disso, do que eu me convencia cada vez mais era de que sofria de algum problema físico. Porque era impossível que dentro de mim houvesse um espaço onde pudesse caber um pénis.
Mas, antes de me decidir finalmente a ir a uma ginecologista, deixei passar três anos. E, surpresa das surpresas, fui à ginecologista com a minha mãe.
Pois é, aos 18 anos entrei na universidade, fui estudar para longe de casa e do meu namorado, e quando regressei de férias pela primeira vez, tive a melhor prenda de Natal de sempre. Os meus pais disseram-me que o meu namorado podia passar a frequentar a minha casa. E a partir daí foram sempre impecáveis em relação ao meu namoro. Basicamente eu e os meus pais passámos a ter uma relação normal no único aspecto em que isso falhava. E o F passou a ser verdadeiramente um membro da minha família.
Mas prosseguindo a minha história, eu estava então a viver longe do meu namorado, as saudades eram terríveis de suportar, ficávamos imenso tempo sem nos vermos. E isso para nós só aumentou a cumplicidade e o amor que sentíamos um pelo outro. Mas eu tinha medo que a distância nos afastasse. E comecei a ficar ainda mais preocupada com a minha situação. E então um dia, quando tinha 19 anos e estava de férias em casa, pedi à minha mãe se ela me podia levar à ginecologista. Ela não perguntou mais nada, marcou, e lá fomos nós.
Quando iamos no carro para a consulta ela perguntou-me se eu tinha algum problema. E eu perguntei “queres mesmo saber o que se passa?”, e então contei-lhe. No momento em que a minha mãe já devia temer que vinha uma gravidez a caminho ou uma coisa do género, eu disse-lhe “Eu sou virgem, mas não é porque quero, é porque não consigo”. A minha mãe não percebeu bem a dimensão do problema. De todo. Brincou com a situação, como faz com todos os assuntos que são sérios mas que ela prefere desvalorizar para amenizar as coisas. E foi isso que fez.
Mas então chegámos ao consultório, eu entrei sozinha, e disse à médica o que se passava, salientando que achava que o meu corpo não era normal. E ela então fez-me o exame e disse-me o que eu temia ouvir (sim, temia): “Está tudo bem contigo. Tu és igual a todas as raparigas”. Confesso que não era realmente o que eu queria ouvir. Nessa altura eu queria ter ouvido qualquer coisa do género “Realmente tu tens um problema, e vais ter que ser operada para te pormos “normal””. Juro-vos, era mesmo isto que eu queria ouvir. Que, sem nenhum esforço, eu ia ficar normal, e que tudo se ia resolver. E mesmo depois de saber que o que tinha era vaginismo pensei inúmeras vezes que o que mais queria era que me rompessem o hímen numa cirurgia. O que eu não percebia na altura é que não é o rompimento do hímen que dói na primeira relaçao sexual, que não era propriamente isso que eu temia, e que a tal operação que eu tanto queria não ia ter em nada o efeito que eu pretendia.
Então a ginecologista receitou-me um lubrificante e disse-me que por enquanto ficávamos assim. Que não me queria dar nada mais forte. Como é óbvio, o lubrificante não me ajudou em nada e eu voltei lá à procura de algo mais forte. Ela então receitou-me uma pomada com efeitos anestésicos e disse-me que, se eu não conseguisse com aquilo, que teria que me encaminhar para outro colega dela (como se eu me fosse assustar de ouvir a palavra “psicólogo” ou até “psiquiatra”…). E, mais uma vez, a pomada não me ajudou absolutamente nada.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O primeiro fracasso

Foi no dia em que fiz 16 anos que disse ao meu namorado: “A partir de agora já não me importo de perder a virgindade. Já não me acho demasiado nova. Agora quando acontecer, aconteceu”. Como podem perceber facilmente, o meu discurso não enunciava uma decisão tomada pelas melhores razões. Ou seja, eu já podia deixar de ser virgem não porque me sentisse propriamente preparada (porque na verdade não estava…), não porque estivesse cheia de vontade que isso acontecesse, mas sim porque achava que, se calhasse a acontecer como muitas histórias que eu ouvia de que o casal “não tinha aguentado mais”, já não teria acontecido numa idade em que eu pudesse ser julgada por ser demasiado nova.
Confesso que tive dificuldade em escrever esta última frase. Tive dificuldade em explicar o porquê de esta minha decisão ter sido tomada desta forma. Agora digo-o com toda a frontalidade porque, analisando a situação seis anos mais tarde, sei que já desde aí o meu pensamento acerca do assunto não era o correcto, e foi isso que me afectou durante os últimos seis anos.

O meu grande problema, a origem de todos os “macaquinhos” que criei na cabeça, foi em grande parte baseada no seguinte: eu comecei a namorar cedo, é um facto, e, apesar de não me arrepender de nada do que fiz nem da altura em que o fiz, eu sentia vergonha perante os adultos de já ter um namorado tão cedo. Nos primeiros anos do meu namoro, eu tinha vergonha de passear pela rua de mão dada. Não deixava de o fazer, mas passava-me frequentemente pela cabeça a ideia de que as pessoas olhavam para nós e deviam pensar que era ridículo dois “miúdos” daquele tamanho já namorarem (sempre me preocupei demasiado com o que os outros pensam de mim, e isso só traz problemas!). Só que entretanto eu cresci e parece que o meu cérebro esqueceu-se de crescer nesse aspecto. Eu ia ficando mais velha mas continuava qualquer coisa dentro de mim a dizer que algo estava errado. Talvez também o facto de eu ir namorar para casa do F sem dizer aos meus pais (que é a coisa mais vulgar de acontecer com os adolescentes…só que o meu sentido de responsabilidade sempre falou mais alto…).
Agora, e depois de ter tido a preciosa ajuda da minha psicóloga, consigo perceber que foi por isto que, quando começámos a tentar avançar, eu não consegui.

Foi numa tarde de verão, quando já tinha 16 anos há alguns meses, que decidi que íamos tentar a nossa primeira vez. Sim, fui eu que decidi, sozinha. Isto porque já namorávamos há quase quatro anos e, como é normal tratando-se de um adolescente ( do sexo masculino!!) com 17 anos, ele já se sentia mais do que preparado há muito tempo. Porquê aquele dia? Não sei. Provavelmente porque o tempo ia passando e eu cheguei à conclusão que connosco não ia “fluir” naturalmente, não ia ser um “deslize” porque sempre que estávamos juntos as coisas já aconteciam da forma a que estávamos habituados e, para ser absolutamente sincera, eu satisfazia-me plenamente daquela forma, não sentia necessidade de mais. Apenas sabia que era suposto as coisas avançarem e darmos o próximo passo. Porque é assim que todos os casais fazem. É assim a evolução natural dos relacionamentos. E foi por esta “simples” razão que disse “vamos fazê-lo hoje”. E lá foi o meu namorado buscar umas velas, como eu pedi, para tornar o momento especial.
Antes de tentarmos eu tinha a sensação que não ia conseguir. Não me perguntem porquê nem como. Qualquer coisa me dizia que eu não ia conseguir. Provavelmente porque no meu íntimo eu não queria verdadeiramente. Mas logo depois pensei “Muitas raparigas passam por isto, muitas também não sabem se estão preparadas, muitas dizem que dói, mas todas conseguem, por isso tu também vais conseguir, porque tu amas o F e a vossa relação chegou a um ponto que merece e precisa deste avanço”. E de facto a nossa relação merecia aquele avanço. Só que o medo da dor falou mais alto.

O que eu senti depois daquela tentativa falhada, e das tentativas seguintes, foi que era impossível haver um espaço em mim onde era suposto caber um pénis. Não julguei que tinha um problema psicológico. Durante muito tempo isso não me passou pela cabeça. Tanto que voltámos a tentar outras vezes. Mas nessas então eu tinha certeza praticamente absoluta que não ia conseguir. Porque a minha reacção era automática. Contraía-me por completo. Empurrava-o involuntariamente com as minhas mãos. Por mais que eu me mentalizasse “não, desta vez não o vou empurrar. Vou deixá-lo tentar”. Mas é um medo muito mais forte do que a própria pessoa. Porque nós metermos na cabeça que vai doer e contraímos-nos como forma involuntária de enfrentar essa for, e então dói mesmo. E esta parte já não é psicológica, isso posso garantir! Aí, dói mesmo. Mas só dói porque nós estamos a fazer por isso, embora no fundo não o queiramos. Esta parte realmente só quem passa pela situação pode compreender o que eu estou a dizer…

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Os tempos que antecederam a primeira tentativa fracassada

Como já disse, foi no final de 2001 que passámos a estar mais tempo juntos, quando fomos para escolas perto uma da outra. E foi nesse ano lectivo, quando tínhamos à volta de 14, 15 anos, que os beijinhos começaram a deixar de ser suficientes. Com um namoro de dois anos e em plena adolescência, as nossas hormonas fervilhavam quando estávamos juntos. E a vontade de avançar começava a ser maior. Mas, nesse primeiro ano lectivo, isso não foi muito fácil visto que não tínhamos um sítio onde pudéssemos estar sozinhos. A minha casa era impossível por todas as razões e mais alguma. A casa dele ficava longe e, ainda por cima, ficava perto do trabalho da minha mãe. Mas, pior que isso, eu não conseguiria ir para casa dele sem pedir autorização à minha mãe (era parva…sim eu sei) e obviamente ela não me deixaria.
Começava a ser muito frustrante. Muitas das minhas colegas na altura já tinham namorados e eles iam a casa delas e vice-versa sem problema nenhum. E nenhuma delas namorava há mais tempo do que eu. Isso fez-me sofrer muito. Muitas lágrimas eu gastei à conta disso. Não era justo! Não com o amor que sentíamos um pelo outro. Mas era isto que eu tinha e era com isto que tinha que viver.

Foi um ano mais tarde que decidi ir a casa dele um dia depois das aulas para podermos namorar à vontade. Não num banco de jardim. Não numa sala de cinema. E sem me sentir “suja” por sentir desejo pelo meu namorado quando estávamos em espaços públicos. Parecia que era errado eu sentir desejo pelo meu namorado só porque não o podia satisfazer num ambiente propício. E não julguem que não chegámos a ter os nossos “divertimentos” em certos lugares que agora para mim são impensáveis, mas era depois desses momentos que eu ainda me sentia pior por não poder estar a fazer a coisa de outra forma…
Mas, como dizia, foi então um ano mais tarde que atingi o limite. Não dava mais. Nós precisávamos do nosso espaço. Só para nós. E então, um dia depois das aulas, decidi ligar à minha mãe a pedir autorização para ir a casa do meu namorado. Liguei. Mas ela não atendeu. Seria um sinal?? Sinal ou não eu não aguentava mais, nós não aguentávamos mais, e decidi ir. Sem autorização. Atrevo-me a dizer que foi o maior acto de loucura que cometi na adolescência :p!
E lá fomos nós. Muito nervosa, muito mesmo, não porque achava errado o que estava a fazer, não mesmo, mas porque tinha pânico de ser descoberta pelos meus pais. E finalmente tivemos o merecido momento a dois.
Não houve penetração. Nem sequer tentativas. Nessa altura, com 15 anos, eu não me sentia preparada (agora não sei se não estava mesmo preparada ou se já era um medo inconsciente) e nisso o meu namorado foi sempre super compreensivo (talvez demais…). E lá namorámos à nossa maneira. Foi bom demais. Podermos finalmente estar só nós os dois, a namorar à vontade. E foi tão bom que a partir daí passámos a ir à casa dele uma vez por semana. Eu ia sempre cheia de medo de ser descoberta, mas a contrapartida do medo superava tudo! Ainda me lembro bem da alegria que sentia nesse dia de manhã, no cuidado que tinha a escolher a roupa que ia usar, e no aperto que sentia no coração quando entrava no autocarro de volta para casa, pensando que ainda faltava passar uma semana para aquele momento voltar a repetir-se.

Uma coisa tenho que admitir. Nessa altura cada ida à casa dele era mais especial do que agora. Era mesmo muito especial. Era um dia perfeito. Nessa altura, em que cada passo na minha felicidade com ele era muito complicado de dar por causa dos meus pais, as coisas tinham um sabor mais especial. Porque é quando as coisas são difíceis de ter que damos mais valor a elas. Sempre foi assim. Com toda a gente. E comigo não era diferente. Mas, apesar disso, eu não dava mais valor ao F do que dou agora. Nem a ele nem a tudo o que amo na vida. Porque a vida tem-me ensinado a dar valor às pessoas, e eu tenho aprendido bem a lição. Não é por já se terem passado dez anos que deixei de pensar todos os dias no quão sortuda eu sou e no quanto amo o meu namorado. Porque se dizem que o tempo esfria as relações, pelo menos até agora não é isso que tem acontecido com os meus sentimentos. Pelo contrário, estão cada vez maiores. A cada dia que passa sou mais feliz com o F. Sou mesmo muito feliz com ele. E se calhar se não tivesse passado por tudo isto não dava o mesmo valor à minha relação. Mas diga-se de passagem que foi uma prova demasiado dura…

Fevereiro de 2000 – O primeiro beijo

Este aconteceu na minha festa de aniversário, no sótão da minha casa. Eu fazia treze anos. Vesti-me a rigor para receber o meu namorado, pela primeira vez, na minha casa. Ele ofereceu-me uma caneta com o meu nome gravado. Foi logo para a caixinha dos bilhetinhos amorosos e demais “romantiquices”, onde guardava tudo o que me fazia lembrar dele.

A meio da festa fomos todos para o sótão, com o propósito de jogar ao “quarto escuro”. Na verdade, tantos os meus amigos como eu tínhamos o mesmo objectivo para o jogo, que era eu dar o meu primeiro beijo. Já estava mais do que na hora :p!!
E lá fomos nós os dois para um cantinho do sótão, enquanto os meus amigos ficaram a conversar. Ficámos algum tempo a conversar. Sobre o quê já não me lembro. Lembro-me apenas que estávamos ambos muito embaraçados, sem saber o que dizer. Mal nos separávamos os nossos telemóveis não paravam um segundo, mas quando estávamos frente a frente a coisa mudava de figura. Mas falámos. E ainda me dá um friozinho na barriga quando me lembro que estava com uma caneta na mão e ele tirou-ma para poder segurar na minha mão…ui! Adorei! Já se passaram alguns anos mas parece que estou a sentir agora o que senti naquele momento. Mas o F, muito tímido, não conseguiu mais do que isso. E eu continuava à espera. Afinal não é o homem que tem que ter a iniciativa de beijar a mulher?! Pois, mas se eu tivesse ficado aguardado arriscava-me a ainda estar à espera :p, e então decidi ser uma mulher moderna, e dei o passo. E pronto, por minha iniciativa demos o nosso primeiro beijo. O nosso primeiro beijo a sério. De língua. Foi a primeira vez dos dois. O primeiro beijo…porque a outra primeira vez foi muito mais difícil, e nessa eu já não fui, de longe, tão moderna… Mas adiante.

O segundo beijo foi daí a um mês…num lugar muito romântico: o Mc Donald’s :p. Sou sincera, não me lembro bem deste momento. Mas tenho um caderninho onde anotei os nossos primeiros beijos, até ao 18.º, altura em que, finalmente, perdi a conta :p.

Nesta altura viamo-nos por volta de uma, duas vezes por mês. Como já disse anteriormente, os primeiros anos do meu namoro não foram nada facilitados pelos meus pais. Com o meu pai o assunto era um tabu. Pura e simplesmente não era falado. Quanto à minha mãe, era a ela que eu “tinha” que pedir para ir ao cinema com ele (e com mais pessoas, porque senão provavelmente não me deixava), e esses dias, que deviam ser de grande alegria para mim, não eram, pelo menos não as horas que antecediam esse pedido que eu tinha que fazer à minha mãe. Um simples “posso ir ao cinema?” era muito, muito difícil de pronunciar, porque a minha mãe ficava toda mal disposta. Nunca disse que não, mas ficava sempre mal encarada, e eu, sempre uma “boa menina” (demasiadamente boa menina…) não era capaz de mentir e dizer que ia com as minhas primas (que também iam connosco) ou inventar uma desculpa qualquer. A verdade é que isso teria me poupado a muito sofrimento, mas eu nunca consegui mentir aos meus pais. Feliz ou infelizmente. Agora chego a pensar que foi infelizmente, porque eu não estava a fazer mal a ninguém, estava a viver o meu primeiro verdadeiro amor, e se deixasse escapar certos “pormenores” das minhas saídas (ou seja, o facto de o F. “também” estar presente nelas) teria tido muito menos chatices. Mas não conseguia. Nesta altura eu estava longe de saber que a origem do meu problema futuro estava aqui, no facto de eu querer sempre ser uma filha exemplar. Porque isso fazia me sentir sempre angustiada (apesar de também muito feliz) quando estava com o F, porque sabia que os meus pais não queriam.

Neste momento pode parecer que os meus pais são uns monstros. Não são, de todo! Para mim, aliás como para quase toda a humanidade, os meus pais são os melhores do mundo, e eu quero seguir os seus passos em grande parte da educação dos meus filhos, mas não em tudo porque, além de os tempos mudarem e termos que evoluir, os meus pais, como normais seres humanos que são, falharam num ponto. Na maneira como lidaram com o meu namoro na adolescência. Eles, as pessoas que mais amo no mundo, fizeram-me sofrer. E sabem disso. Agora em adulta já fiz questão de lhes deixar isso muito claro. Até porque é com os erros que nós aprendemos.
Neste momento não guardo ressentimentos. Até porque já fui recompensada por eles de diversas formas, algumas das quais não imaginava que fossem acontecer tão cedo, mas esse é um ponto que irei desenvolver mais adiante.

Um dia, quando ainda era adolescente, tive uma conversa séria com a minha mãe. Às escuras, no meu quarto. Quando eu já estava deitada na cama. O facto de não nos podermos ver olhos nos olhos deve ter ajudado. Não sei. E a minha mãe disse-me que tudo o que queria era o meu bem. E que achava que eu era muito nova para me “prender”. A minha mãe, que só teve um namoro sério na vida (com o meu pai) e que não começou a namorar assim tão mais tarde do que eu (tinha por volta de 14 anos), sempre gostou muito de se referir aos namoros “precoces” com esse termo…”prender”.
E não pensem que, apesar de bem comportadinha, eu não respondia à minha mãe. Sempre que tinha oportunidade também fazia questão de deixar clara a minha opinião sobre certos assuntos. Aliás, fartei-me de lhe dizer que se o facto de a pessoa se “prender” tão cedo fosse assim tão mau, ela não teria casado com o meu pai e formado o casal mais feliz que eu conheço. Sim, porque os meus pais são o casal mais exemplar que eu conheço. Depois de mais de 25 anos de casamento, e com um casamento que não tem sido só feito de alegrias (afinal qual a família que não tem os seus problemas?), continuam a ser o exemplo de amor mais bonito que já tive o prazer de testemunhar, e talvez por aí eu seja o romantismo em pessoa. Adoro uma história de amor. A pessoa mais insignificante para mim torna-se interessante se começar a protagonizar uma história de amor. Querem me entreter um pedaço? Então contem-me uma história de amor. Com fotografias de preferência J. Adoro ver fotos de casalinhos apaixonados. Adoro tudo o que esteja relacionado com o amor. Sou uma romântica incurável!

Por agora falta referir um facto, que era o outro grande obstáculo do nosso namoro. Não fosse ele e eu nem tinha que pedir autorização aos meus pais para estar com o meu namorado. É que nós nunca andámos na mesma escola. E, nos dois primeiros anos do nosso namoro, estávamos em escolas bem distantes. O que dificultava muito os nossos encontros. Daí que só nos podíamos encontrar ao fim de semana, altura em que tinha que pedir autorização para sair de casa (como aliás é normal).
E foi assim o nosso namoro até ao fim de 2001, altura em que o F veio estudar para uma escola pertinho da minha, e passámos a poder nos ver cinco dias por semana, nem que fosse só por cinco minutos (quando a compatibilidade dos nossos horários não dava para mais)…que sonho :)!!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

1999 - O início do namoro

Foi no ano de 1999, quando eu era ainda uma criança a entrar na temida fase da adolescência, que começou a nossa história de amor.
Temos família em comum (o irmão da minha mãe é casado com a irmã do pai dele, ou seja, temos tios e primos em comum), e por isso é difícil concretizar o dia, o momento em que nos conhecemos. Provavelmente desde sempre. Mas não é desde sempre que nos olhamos com um olhar especial. Não, a magia começou cedo, mas não tão cedo. Até porque em criança eu devia ser tudo menos mágica. Que o diga o meu amor (que a partir de agora será o F. (também por razões óbvias não vou dizer o nome)), que às vezes verbaliza os seus “traumazitos” de quando eu ia com a minha mãe para a escola dela. Sim, porque a minha mãe já foi professora dele, quando tínhamos ambos 5 anos de idade. Mas confesso que esta é uma fase que ele se recorda melhor que eu. A minha memória a longo prazo é péssima. Mas quando se trata de uma data tão longínqua até tenho desculpa :p (oh amor tu lembraste melhor que eu porque já nessa altura eu lançava o meu charme…brincadeirinha).

Agora perguntam-me: quando é que eu comecei a notar a existência do meu amorzinho? Ora bem, eu devia ter à volta de onze anos. E diz-me a minha prima na altura que o primo dela (outro (L.), não o F.) me achava uma certa graça. E eu, que nunca tinha reparado no rapaz, conheci-o melhor nessa altura. Só que esse outro fazia-se acompanhar por um primo ligeiramente mais velho (e bem giro por sinal) quando fazíamos certos programas em que a nossa prima também nos acompanhava (já se sabe que quando somos crianças há sempre intermediários no início dos namoros :p…ainda mais quando os dois são igualmente tímidos, como era o caso). E era ao primo mais velho, que na altura eu julgava que era muito mais velho e inatingível (sim, porque para mim um rapaz com todas aqueles atributos estava longe de poder algum dia ter o mínimo interesse em mim…sempre tive uma auto-estima muito alta…) que eu começava a achar graça. E, quando o L. decidiu me pedir em namoro, eu não consegui responder. Pois é, estava apaixonada…pelo primo dele! Esta parte parece mesmo um romance de uma daquelas revistas para adolescentes, mas é a minha história J. Isto passou-se durante o verão e início do Outono de 1999. Depois de o L. ter percebido que eu não estava muito inclinada para ele, começou a afastar-se e foi aí que a coisa realmente começou.

Já não me recordo de tudo com pormenores. Também já se passaram dez anos. Mas o essencial da nossa aproximação deu-se por intermédio da nossa prima em comum (a A.), que falava com ele e depois me vinha contar tudo, claro :p. Então num certo dia ela disse-lhe que eu estava interessada noutra pessoa que não o primo dele, daí não ter aceite o pedido de namoro. E ele insistiu muito com a nossa prima para saber em quem é que eu estava interessada. Insistiu demais. Era estranho para mim o interesse dele. De repente eu não era assim tão insignificante. Afinal nunca fora. Claro que um dia a A. cedeu e lhe disse que eu gostava dele. O meu coração disparou quando ela me disse que ele também gostava de mim. Fiquei sem chão! O primo mais velho e inatingível também gostava de mim!!!

Aproxima-se então a fase do início do namoro. Um início que não foi nada facilitado pelos meus pais. E talvez aí também esteja uma grande parte da justificação do meu problema, mas sobre isso falarei mais tarde. Neste momento o mundo era perfeito e tudo eram rosas! Ele estava apaixonado por mim!

Foi então no mês de Dezembro, em que os meus pais foram viajar durante um fim de semana, que eu e o F. fomos ao cinema e ele me pediu em namoro. Não, não se ajoelhou :p. Não, não me agarrou na mão. Não, também não me beijou (isso só chegou dois meses depois…sim, dois meses, e não foi bem ele que tomou a iniciativa, mas sobre isso também falarei depois). Se olhou para mim? Também não sei…eu não olhei para ele :p. Estava tão ou mais nervosa que ele. Basicamente nós fomos ao cinema com o propósito de ele me pedir em namoro. Claro que a nossa intermediária não me podia deixar ir desprevenida para um momento tão importante da minha vida como este, e por isso eu ia bem informada do que ia acontecer. Confesso que numa certa altura cheguei a maldizê-la porque o filme já ia quase no fim e nada de pedido de namoro. “Queres ver que é mentira? Que não vou ser nada pedida em namoro?” Mas não, lá quase no fim do filme o rapaz conseguiu abrir a boca (coitadinho estava tão nervoso!) e fez A pergunta. Mas desta vez eu respondi. “Sim”. Claro que sim. Óbvio!! Era tudo o que mais queria. Estava tão feliz…e nervosa, muito nervosa. Mas nesse dia foi tudo. É verdade. Acabou o filme e lá fomos nós cada um com a sua “vela” (eu com a nossa prima e ele com o dele) e cada um foi para a sua casinha feliz da vida.

O porquê deste blog

Vaginismo…
Foi por esta assustadora palavra que procurei no google há uns tempos atrás…foi esta a palavra que mais sofrimento me causou durante muitos anos…mas neste momento esta palavra é para mim um obstáculo ultrapassado, o obstáculo mais difícil que consegui ultrapassar até hoje, e que me deu a certeza e confiança para acreditar que, afinal, não há impossíveis. Sim, porque depois de ter ultrapassado esta barreira, eu sei que consigo tudo. Pelo menos tudo o que eu tiver força de vontade para conseguir. Eu consigo.

A razão de eu me ter decidido a fazer um blog, expondo grande parte da minha vida íntima, é muito simples. Não há nada como sabermos que alguém com um problema igual ao nosso já o ultrapassou. E quando eu decidi começar a procurar informação sobre o meu problema, quando cheguei à conclusão que tinha um problema, mais do que teorias, do que senti necessidade foi de ouvir as palavras de alguém que tivesse passado pelo mesmo problema que eu e que o tivesse ultrapassado. Eu precisava de força. Precisava que alguém me dissesse “Sim, eu consegui. Sim, tu vais te curar. É verdade, tu consegues ser igual a todas as outras mulheres”. Mas o máximo que encontrei foram diversos sites que me informaram que o vaginismo “é a contração involuntária dos músculos próximos à vagina, dificultando ou até impedindo a penetração pelo pênis na relação sexual.” Sim, fazia sentido. Era isso que eu tinha de facto. Mas essas mesmas páginas, depois da tal definição deste temido conceito, mandavam-me procurar a ajuda de um profissional…e esse não é um passo muito fácil de se tomar quando tememos ouvir que o nosso problema não tem solução, que somos um caso perdido, que não há cura. E foi esse o meu medo durante seis anos. Seis longos anos em que não tive apenas tristezas, é verdade, mas tinha sempre uma enorme mágoa dentro de mim, uma angústia que não é fácil de descrever em palavras, uma dor no coração que muitas vezes me fez acreditar que eu nunca teria um futuro feliz como adulta, simplesmente porque não poderia ter uma relação amorosa durante muito tempo e porque não conseguiria e ter filhos, que é “apenas” o sonho da maioria das mulheres…
E é então por isto que vou contar a minha história desde o início. Adulterando nomes, datas e lugares (por razões óbvias) mas não adulterando em nada os sentimentos que me assolaram durante todos estes anos. Seis anos da minha vida.