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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A conversa

Olá a todas!
Vou só começar por responder à Daniela, que me perguntou porque é que eu entrei em pânico quando a minha médica me falou do tratamento. Então, isso aconteceu porque ela me disse que a parte final do tratamento consistiria em inserir dilatadores (do que me recordo, mas esperem, o mais grave não é isso...sim, digo grave porque no dia em que ouvimos falar pela primeira vez no tratamento, quando nos sentimos mais "fechadas" do que as portas de uma prisão, essa ideia não é muito animadora) e que isso em princípio teria sucesso mais rápido se fosse feito no consultório...sim, no consultório!! Imaginam agora o pânico de uma pessoa, com vaginismo, a se imaginar de pernas abertas no consultório a inserir dilatadores com um especialista??mau demais, não é?? Se bem que, caso aconteça a alguma de vocês, acredito que seja mais constrangedor do que propriamente difícil, porque a dificuldade é a mesma, mas acho que não perdem nada em tentar vocês primeiro se o médico sugerir essa ideia). Mas não foi nada disso que acabou por acontecer, graças a Deus (ou me portei bem ou ela mudou de ideias, não sei bem qual delas foi a verdadeira).
Mas então agora, e tentando não me alongar demasiado (como faço sempre!!sou uma chata!!) vou-vos resumir A conversa, em que disse à minha mãe que estava curada. Ao lerem as linhas que se seguem, tenham em conta que quando, há quatro anos, eu contei à minha mãe que não conseguia ter relações com penetração, nem eu nem ela sabíamos que existia o vaginismo e ela, igual a si própria, desvalorizou logo o problema.
Não me lembro da conversa toda, como é óbvio, por isso vou-vos contar as partes mais importantes que me lembro. Depois quero opiniões sinceras sobre se contei da melhor maneira ou não, pode ser meninas?
Então eu comecei por lhe dizer que a médica ainda se lembrava do meu caso, e disse que até compreendia isso, porque a minha situação não era propriamente normal. Ela não deu muita atenção ao que eu disse (ou fingiu não dar...lembrem-se, meninas, a minha mãe é perita em relativizar problemas, o que nem sempre é bom, acreditem!). Mas eu insisti na conversa, porque queria contar-lhe mais.
E então disse-lhe que o problema que tive era psicológico e perguntei se ela fazia ideia que existia aquele problema. E ela, nunca dando parte de fraca "existem problemas psicológicos de todo o tipo, é natural que também existam relacionados com isso". Ok, mas a minha questão era se ela fazia ideia da existência dele. Claro que não (era a resposta sincera que ela, e qualquer uma de nós há uns tempos, teria dado).
E depois expliquei-lhe que era um problema relacionado com ansiedade, e que era mais comum em pessoas com traumas sexuais, tipo violações. Mas que, como ela sabia, não era o meu caso. E não sei como é que a conversa chegou lá mas eu disse qualquer coisa que ela respondeu "Ih, não me digas que fui eu que causei isso!" e eu respondi "Alguma coisa causou!". E expliquei-lhe que, por ela não aceitar o meu namoro no início, eu sentia que era errado estar com ele, e que isso se prolongou até eu ser mais "velhinha" e começar a tentar as primeiras relações sexuais. Mas ela nunca se desarmou, disse que como era óbvio não me ia incentivar a ter relações sexuais com 12, 13 anos, quando eu comecei a namorar (mas quem é que falou nisso??) e que depois não me proibiu de nada (mentira!!). E que eu tinha que aprender a pensar pela minha cabeça o que é certo e o que é errado, que mesmo eu sou assim em tudo na vida, muito nervosinha e muito de prestar demasiada atenção a coisas que não devia e, depois, fico com problemas de ansiedade. Basicamente, meninas, a culpa é minha, não dela!! Foi isto que ela quis dizer com certeza. Enfim...
Confesso que às vezes ponho-me a pensar e chego à conclusão que ela tem o seu ponto de vista, porque não é normal um adolescente levar tão a sério e cumprir tão "à risca" os supostos desejos dos seus pais e ter tanto medo de desapontar. Não é! Num ponto ela tem razão, nós temos que pensar pelas nossas cabeças, não pela dos nossos pais. Os meus nunca me disseram que sexo antes do casamento (ou com determinada idade) era errado. Mas não aceitavam o meu namoro!
E para vocês verem como eu estou curada mas o trauma continua lá bem presente, no fim de semana passado os meus pais foram passá-lo fora (voltavam no dia seguinte de manhã), o meu irmão mais novo foi passar o fim de semana com a namorada (quando é que eu ia ter essa permissão com aquela idade?!) e eu não consegui ficar calma enquanto o meu namorado não voltou para casa dele (tinhamos ponderado de ele dormir lá na minha casa), porque eu não sentia que estivesse a fazer a coisa certa. Eu, que, aqui, em Lisboa, vivo com o meu namorado (com o conhecimento e apoio dos meus pais), vou a casa dos meus pais e faço isto!! Não sou normal!! Mas que é que posso fazer?? Infelizmente, há coisas que nunca mudam!
P.S. Só para dizer que, como acabei, finalmente, os meus exames, vou comemorar o dia dos namorados como deve ser e só volto no Sábado portanto até lá em princípio não vão ter notícias minhas. Beijos a todas!

6 comentários:

  1. Oi, K!
    Agora entendi o que vc queria dizer com o "pânico" que sentiu ao saber como seria o tratamento... O meu psico disse que farei exercícios mas nunca no consultório. Na época achei interessante ele frisar isso, mas na realidade não sabia que tinham médicos que ajudavam suas pacientes a inserir os dilatadores... Hoje vou perguntar a ele quais serão os próximos passos do tratamento, acho que ele nunca me contou claramente...
    Achei interessante o fato de vc fazer questão de contar a sua mãe (pq vc teve mesmo que insistir, né?). Eu não tenho a mínima vontade de contar à minha, meu marido acha que eu deveria contar agora, antes de me curar, pra que minha mãe percebesse o impacto de suas ações e tentasse controlá-las, mas eu acho que além de não conseguir mudar, ela sofreria muito em saber que me causou isso, além disso, acho que seria mais uma (além de mim mesma) a me cobrar pela cura e não estou disposta a ter mais alguém envolvida nisso...
    Sobre vc ainda manter algumas dessas atitudes, eu acho que vc deveria tentar mudá-las aos poucos, acho que seria bom pra vc ir se desvencilhando de comportamentos que geraram este problema, não é? Um passinho de cada vez faz a gente chegar lá, né?
    Aproveita bastante essa comemoração do dia dos namorados, hein? Tinha que ficar um dia pra cada ano "mal comemorado"! hehehe
    Divirta-se!
    Bjs

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  2. Ei, amiga!

    A esta altura já deve estar nas comemorações! É isso aí! Mas vou deixar o meu recadinho: também sou hiper-mega-ultra responsável. Cabeça aberta (não tenho preconceitos, mesmo!!) e não sou de ligar o que pensam de mim (me preocupo mais
    com o que eu penso de mim mesma...), mas sim sou do tipo certinha. Será que isso faz tanta diferença??

    Como a Dani, admiro o fato de vc contar pra sua mãe (nem sonho fazer isso). Seria mais uma preocupação pra ela, e sinceramente não acredito que me ajudaria em nada.

    Quanto à reação dela, vc fez sua parte. Não adianta querer entrar na cabeça do outro, o outro é o outro, e a gente fica na fronteira, no limite, por mais que tente não consegue ir além, reger com as regras do outro. Por isso, k., fique com a cabeça tranquila, viu??

    Curta seu "Valentine's Day". Bastante!! rs

    Bjs

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  3. Olá K. !!!! Sabe a sua história me fez lembra um episódio da minha história ... e eu hoje analiso as coisas de um ângulo completamente diferente do que há um ano atrás ... quando tive um problema psicológico, e acabei confessando num desabafo não só pra minha mãe ... como tbém pra minha avó ... que com todo aquele tempo de namoro não tinha conseguido fazer sexo com meu namorado ... acreditem ... a reação da minha avó foi a melhor ... ela disse que sexo é melhor coisa da vida e que precisávamos descobrir o que eu tinha pq provavelmente o motivo de eu estar doente na época era isso tbém ... "no fundo ela tinha uma certa razão" ... ela até me arrumou um livro de sexo ... rs (Imaginem) ... mas eu estava meio depressiva na época tinha acabado de perder um estágio ... trancado a faculdade no último ano por causa das minhas crises de choro e insônia ... então a última coisa que eu queria era me lembrar que eu tinha problemas em fazer sexo. E nem quis saber do livro da minha vó!
    A reação da minha mãe ... já foi bem diferente ... entendeu perfeitamente ... e disse que ela tbém tinha problemas em fazer sexo no começo de casada com meu pai ... e que iam fazendo de outras formas sem a penetração ... !!!!!HaHa!!!!! ... será que esse problema do vaginismo é hereditário garotas?? Brincadeira ... é claro que não ... a verdade é que meus pais conseguiram me colocar tanto medo de engravidar ... que acho que foi esse o motivo do meu vaginismo ... nunca vou esquecer um comentário da minha mãe que era pra eu tomar cuidado com os garotos na piscina ... pois podia engravidar caso eles fizessem alguma brincadeirinha ... em que sentido será que ela quis dizer isso ... pra uma criança ou adolescente na época ... sei lá ... o caso é que traumatizou ... tinha medo até de toalhas de primos, tios, amigos ... quando freqüentava a casa de parentes e conhecidos. A que ponto a educação massacra a gente né?!
    Tbém sou a certinha, jamais engravidaria fora do casamento ... e por isso achava que era travada desse jeito ... mas hoje depois das histórias de todas vocês ... tenho certeza que foi a educação rígida e sem noção que meus pais me deram ... hoje é tudo escraxado com relação ao meu noivo, mas de que adianta o mal já foi feito, a raiz tá mais que profunda! Mas voltando ao assunto da K. em contar a mãe dela ... sei lá acho que os nossos pais não tem noção do mal que nos fizeram ... afinal o que fizeram foi pensando em nos preservar do mundo "perdido" onde ninguém é de ninguém em que vivemos ... afinal na nossa adolescência já era assim e queriam preservar a garotinha deles ...
    Hoje tenho perfeita consciência que minha mãe me plantou o medo que tenho em relação a fazer sexo! E a imagem de sexo que ela me passou é que sexo era errado e sujo ... ahh e quando falei pra ela que ia começar a tomar anti concepcional - ela veio com o maior sermão a respeito da responsabilidade ... do "peso" nas entrelinhas ... que era o que eu estava decidindo pra minha vida naquele momento. Pra quê assustar tanto?! Agora sabendo o tenho de verdade ... eu só quero me curar e jamais voltar a falar desse assunto com elas ... e qdo eu tiver meus filhos ... vou deixar bem claro à meus pais que da educação sexual deles cuidarei eu ... nada de tabus e medos encima deles como fizeram comigo!!!!
    Bjoooooosssss
    Ane

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  4. K.

    Infelizmente ninguém tem manual de instruções para os problemas que encontraremos durante a vida... nem nós, nem nossos pais. Não estou aqui defendendo sua mãe, não. Mas tenho certeza que ela provavelmente agiria diferente se soubesse tudo o que causaria em vc...
    Me desculpe se estiver errada, mas às vezes acho que fica fácil achar que todo o nosso problema está nas atitudes que os outros tiveram com a gente... eu sou assim, e muito!!! Ultimamente eu tenho pensado qual a minha parcela para chegar no estágio que estou, porque eu demorei pra buscar ajuda, sei que não foi nada fácil, mas consegui!
    Sei que a origem do problema não é minha, mas preciso assumir a responsabilidade da cura!
    E a sua ajuda tem sido ótima! Acho que fui meio confusa, não acha? isso é porque estou no dia seguinte à sessão de terapia e estou com mil pulguinhas atrás da orelha...

    Bjs, C.

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  5. Ane e C., respondendo aos vossos comentários, e como as duas deram uma opinião diferente uma da outra, devo dizer que concordo com as duas. Como aliás eu acho que já escrevi aqui antes, é verdade que a origem do nosso problema está (na maioria de nós) numa educação demasiado protegida ou com medo de decepcionar os pais, e eles têm a sua parte de culpa nisso. Mas a verdade é que nem todas as mulheres que tiveram uma educação como a nossa tiveram vaginismo, e aí acho que está o nosso grau de "culpa". É que, de certeza maneira, não fomos fortes o suficiente para pensarmos que a nossa felicidade (sexual, neste caso) não impediria a felicidade dos nossos pais nem o orgulho deles em nós.
    E eu cada vez mais me consciencializo da minha parte de culpa, até porque os meus pais não são nada de ter tabus com sexo, daí ser estranho eu ter criado este problema na minha cabeça.
    E, como disse a Ane, eu também hesitei em contar durante muito tempo com medo de os meus pais pensarem que falharam na minha educação, ainda mais quando, em tudo o resto, eles foram e são sempre maravilhosos comigo, um verdadeiro exemplo a seguir. Mas contei para a minha mãe porque, além de não ter coragem para falar destes assuntos com o meu pai, a minha mãe mais depressa não ia sentir um peso por eu ter tido este problema, o meu pai mais depressa iria se sentir culpado talvez. E, visto que já estou curada, e que já não há sofrimento nesse aspecto, resolvi contar agora, para não ter tanto impacto negativo.
    Ane, a sua avó é fantástica, e você é muito corajosa também por lhes ter contado. E concordo absolutamente, eu também vou tentar ao máximo que os meus filhos cresçam sem medos nem tabus, mas com moderação, como em tudo na vida.
    Beijos para as duas e para todas.
    K.

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  6. Olá!

    Comigo aconteceu de uma forma muito parecida, ao falar disto com os meus pais. Porque estamos a falar de coisas que tiveram um impacto a um nível tácito, inconsciente. E o comum dos mortais não é assim tão empático, e funcionam de forma muito concreta: 1+1 = 2. Pois, a prova é precisamente tudo o que é demais como a superprotecção: gera falta de autonomia e ansiedade. E problemas como o vaginismo... Mas fica a esperança de pelo menos, no fim de contas, reconhecermos que tudo o que fizeram não foi por mal, e continuam a querer a nossa felicidade. E que nós somos fortes e resilientes e conseguimos (ou conseguiremos) ultrapassar os nossos obstáculos!

    Peço desculpa se fui demasiado abstracta ou vaga, mas é assim que sou e esta foi uma das ferramentas que ajudou na minha cura: a reflexão. Até agora nunca tinha comentado, mas este post fez-me ter este desabafo. Já agora, foi graças a este blog, que descobri há uns meses atrás, que se deu "o início do «fim»", ainda que o vaginismo faça sempre parte da minha história de vida...

    Obrigada K., a tua história identifica-se muito com a minha (se bem que o meu sofrimento foi bem mais curto) e fez-me encarar a minha vida de frente, pelo simples facto de me sentir compreendida como nunca até então :)

    Espero que estejas bem, e que continues a derrubar "os impossíveis". Beijinhos

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