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sábado, 13 de fevereiro de 2010

Relembrando as origens do problema

Para quem não leu os primeiros posts que fiz, há uns meses atrás, basicamente o motivo pelo qual eu tive vaginismo, segundo a minha terapeuta, foi o facto de querer sempre ser a filha perfeita, sempre muito responsável, e que tinha pavor de fazer alguma coisa que achasse que os meus pais não iam gostar.
E, como também já contei, comecei a namorar (com o meu namorado actual) muito nova (ainda não tinha 13 anos), e os meus pais não gostaram mesmo nada da ideia. E, à custa disso, passei alguns momentos bem difíceis.
Sofri muito em ver todas as minhas amigas, com 15 e 16 anos, a levar os namorados às suas casas e a ter um namoro aceite por toda a gente, enquanto eu tinha que mentir aos meus quando ia ter com o meu namorado. Era bem doloroso. Porque, infelizmente, ao contrário da maioria dos adolescentes (e que inveja que eu tenho deles!!), custava-me (e continua a custar, só que agora já não preciso fazê-lo), eu tinha muita dificuldade em mentir aos meus pais, ficava a me sentir a pior pessoa do mundo!
Para perceberem melhor do que é que estou a falar, vou vos contar algumas das situações específicas por que eu passava.
Nos primeiros tempos de namoro, andávamos em escolas bem distantes e, basicamente, viamo-nos uma vez por mês, ao domingo, altura em que iamos ao cinema mas nunca sozinhos (como é que eu ia dizer a minha mãe que ia ao cinema sozinha com ele??impossível, ela não ia deixar!), e, mesmo quando dizia que os nossos primos iam connosco, ela deixava-me ir, mas respondia com uma expressão que nem vos conto...já não dizer que eu passava os dois dias antes de ter que pedir para sair com ele cheia de nervoso miudinho. Ou seja, basicamente, para poder passar umas horinhas com o meu namorado, passava quase uma semana antes de sofrimento.
Depois começámos a nos ver num dia de semana, o dia que eu tinha explicação à tarde, e isto só quando a minha mãe não me podia ir buscar. Aí eu tinha que ir de transportes públicos, e lá ficava uma hora e meia (sim, uma hora meia apenas!!) com ele, porque depois tinha treinos. E o dia em que a minha mãe perguntou porque é que eu não passava em casa antes de ir para os treinos??Ui, tremi que nem varas verdes. Qualquer adolescente normal ignoraria completamente aquilo, e seguiria a sua vidinha em paz. Mas eu não era, de facto, normal.
Quando passava na televisão regional imagens de jardins, no intervalo do telejornal, eu tremia com medo de eventualmente aparecer alguma imagem minha a passear com o meu namorado, chegava a evitar jantar à hora que passavam essas imagens, com esperança que, se eu alguma vez aparecesse nessas imagens, os meus pais não me dissessem nada e guardassem o assunto para eles. Se eu estivesse a ver as imagens com eles, ia ser muito constrangedor.
Depois, quando tinhamos à volta de 15/16 anos, fomos para escolas próximas e, ao fim de um ano e meio de isso acontecer, eu decidi ir a casa do meu namorado. No dia em que decidi, pensei que tinha que pedir autorização à minha mãe. E telefonei-lhe. Só que ela não atendeu. E então, pela primeira vez na minha vida, decidi fazer alguma coisa às escondidas dos meus pais. E sabem do pior? O trabalho da minha mãe fica bem pertinho da casa dele...podem imaginar então o meu pânico. Eu tentava ir a horas que achava que a minha mãe não estava no trabalho, mas ela às vezes tinha reuniões inesperadas, por isso era sempre um terror. E, quando eu apanhava o autocarro ao pé da casa dele para voltar para a minha, parecia uma criminosa, sempre a olhar para trás, para ver se o carro dos meus pais não vinha atrás do autocarro, porque se os meus pais me vissem a sair numa paragem diferente da que eu costumava sair quando voltava da escola...
Na altura das férias, como não tinha escola, sabem o que eu fazia para poder ir a casa dele?? Apanhava o autocarro quase até ao pé da minha escola (porque, mesmo ao pé de casa, não tinha coragem de ir para a paragem que dava para a casa dele) e, depois, voltava, noutro autocarro, para trás, para ir para a casa dele, isto só para não ser apanhada na paragem pelos meus pais. Basicamente demorava uma hora ou mais a chegar a casa dele, quando podia ir directamente, demorando dez minutos.
Não quero que pensem que os meus pais são horríveis. Porque não são mesmo. São duas pessoas fantásticas, que admiro imenso, e que têm um amor um pelo outro que é o amor mais bonito que já vi na minha vida. A sério. Em termos de casal, tenho em casa o melhor exemplo que poderia ter. Mas eles quiseram proteger-me demasiado, e com isso fizeram-me sofrer. Eu sei que o objectivo não era me criar o pânico que criaram. Eu sei que grande parte da culpa também é minha, por ser tão infantil e medrosa, porque em 90% (pelo menos) dos casos de adolescentes nesta situação, eles continuam fazendo a sua vida às escondidas sem se preocupar minimamente se os pais gostam ou deixam de gostar. Mas, infelizmente, eu não consegui ser uma adolescente normal, e isso saíu-me bem caro...
Decidi fazer este post antes de vos contar a conversa com a minha mãe, para perceberem melhor o sentido das coisas. Provavelmente foi um post cansativo, mas era para ficarem inteiradas da situação (e peço desculpas a quem já tinha lido o que fiz há algum tempo e que diz muita coisa parecida, mas tenho várias leitoras recentes). E espero que não tenham ficado a pensar mal dos meus pais. Porque é como costumo dizer, eu posso dizer "mal" das pessoas que amo mas mais ninguém pode :p, não é assim?

1 comentário:

  1. Ai, K...
    Cada vez me entendo mais enquanto leio vc... Acho que meu problema tb está enraizado num medo terrível de decepcionar meus pais...

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